sábado, 12 de janeiro de 2013

Palavras, solidariedade e democracia





Hoje, a única «coisa» que me interessou no PÚBLICO, para além do artigo do amigo João Fraga de Oliveira sobre Emprego, foi o "ensaio" da poeta Ana Luísa Amaral versando sobre que valores para 2013. Transcrevo a passagem que mais me cativou, talvez por se referir às palavras:
"(...) os prisioneiros de Guantánamo, cujos poemas eram literalmente gravados – em copos de esferovite, passados de mão em mão. Os poemas desses que representam bem a figura do destituído de direitos políticos não eram gravados em pedra, mas numa superfície que tanto podia ser a da esferovite, como a dos papéis contrabandeados. Eram essas marcas, as da palavra, que, transcendendo o corpo transitório, ajudavam a quebrar "as cadeias precárias da solidão". Tal como de palavras são feitas as leis desumanas com que vós nos legislais, também nós de palavras, como formas de solidariedade, nos podemos sempre servir. Para denunciar, para exigir e para nos vincularmos uns aos outros. Praticando-as no dia-a-dia, praticando-as na arte. Porque são elas o motor da memória. E, enquanto a memória persistir, a solidariedade não morrerá. Transformada em exercício da palavra, em recusa do silêncio, a solidariedade pode ser não contradição mas contradicção, uma representação nova dos corpos que as ideologias dominantes do dinheiro e da ganância pretendem tornar rasos."
Sublinho a ideia bonita da poeta (que há poucos dias abraçou a Casa da Música) que diz das marcas deixadas pela palavra que ajudam "a quebrar as cadeias precárias da solidão".
E ainda que nos podemos servir delas, das palavras, para denunciar, exigir e para nos vincularmos uns aos outros. A vinculação entre nós, feita pelas palavras. Praticando-as...
E a solidariedade "transformada em exercício da palavra".  

Mas Ana Luisa Amaral disse muito mais. Não está «adormecida», como se pode pensar relativamente aos intelectuais que têm o privilégio de opinar publicamente: "Temos o direito de exigir que não se julgue e condene um povo que de culpado só teve a crença na importância do voto, a mais fundamental instância democrática. "

Poesia?
 
 

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