sábado, 23 de março de 2013

Os alentejanos ao poder

Medina Carreira, ao contrário do que se julga, é um optimista porque acredita que, se importássemos a legislação de países com boas práticas e nossos concorrentes directos, Portugal conseguiria resolver muitos dos seus problemas. Infelizmente, nem os nossos políticos, nem os nossos comentadores, nem as nossas elites, conseguem perceber um coisa que é óbvia para qualquer alentejano: por mais que se legisle, os sobreiros não dão laranjas. Nós podemos melhorar a qualidade da lande e da cortiça, mas não conseguimos fazer, por melhor que seja a legislação, que um sobreiro dê laranjas. Ora, sem perceber isto, não vale a pena levar a cabo qualquer reforma estrutural. Um português não é, nem nunca será um alemão, um sueco ou um polaco.

Como seríamos um país diferente se, em vez de 180 deputados que querem, por força da lei, que os sobreiros dêem laranjas, tivéssemos a dormir a sesta, na Assembleia da República, 180 alentejanos. Imaginem o que seria ter 180 deputados que só se levantassem dos seus lugares por força de uma dor de barriga e que tivessem sempre o cuidado de se fazer acompanhar do respectivo diploma legislativo para limpar o traseiro..... Bastaria cada um dos 180 deputados ir uma vez por dia à casa de banho durante os quatro anos da legislatura, para que fosse levada a cabo a única, urgente e inadiável reforma estrutural de que o nosso país carece.
Santana-Maia Leonardo
Público, 30-3-2013

2 comentários:

  1. Caro Leonardo.
    Se me fosse dado a escolher onde viver em Portugal, sim porque por nada eu abandonaria este país por maior que fosse a fortuna, seria difícil a escolha. Entre Ponte de Lima, Évora essa cidade deliciosa ou lá para os lados de Bragança não sei. Talvez vivesse o ano dividido entre os três sítios. Isto só para lhe dizer que adoro o Alentejo e sempre que posso vou até lá. Évora será a cidade que mais visitei ao longo da minha vida e a minha filha pode bem dizer que é de Mértola... Isto a propósito dos alentejanos ao poder. É um povo cheio de bonomia e sentido de humor e foi de lá que vimos muitos e muitos sofrerem na pele a luta contra o regime de Salazar.Gente anónima que sacrificaram vidas inteiras em prol de coisas simples. Justiça, igualdade, liberdade, melhores salários, dignidade para o trabalhador, por exemplo. Apesar de não ser ideologicamente afecto às teorias do Partido Comunista, tenho por esses antigos militantes o maior do apreço e a eles nunca lhe foi feito qualquer reconhecimento público pela sua militância que ajudou um pouco a derrubar o regime. Por isso pergunto e vendo como as cidades "vermelhas" foram geridas até hoje, porque é que em todos estes anos de desencanto perante os partidos do arco do poder não se deu uma única vez hipótese ao PC de formar governo?
    Atentamente

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  2. Acho muito interessante que os blogers troquem impressões entre si sobre o que se escreve, porque nos podemos conhecer um pouco melhor e assim partilharmos pontos de vista. Eu tenho uma certa simpatia e até carinho pelos alentejanos e tenho sempre em conta que cada povo, ou pessoa é filha das circunstâncias, desde a geografia onde se insere até às políticas a que foi sujeito ou se submeteu. O alentejano é fruto do clima, do abandono a que o território foi votado, das grandes superfícies latifundiárias mal aproveitadas e de um laxismo que está na matriz de algumas elites portuguesas responsáveis. O Santana-Maia Leonardo utilizou um certo humor para avaliar a nossa infeliz e catastrófica situação. Não é para ser levado à letra e é saudável que assim seja. Saudações a estes e a todos os colaboradores do blog.

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