segunda-feira, 3 de junho de 2013

Aborto vs Religião





 Ao ler a notícia de sexta-feira no “Público” sobre a situação de uma mulher em El Salvador que está grávida de 23 semanas e que o Supremo Tribunal de El Salvador nega a possibilidade de abortar leva-me a pensar no recente eleito Papa Francisco originário da América Latina e na esperança de que possa tentar de algum modo modificar as mentalidades ultra-religiosas que em nome da Fé em Cristo e por causa da enorme religiosidade não saibam, primeiro, reconhecer os direitos fundamentais de um indivíduo. A mulher tem uma doença auto-imune, a lúpus, que lhe está a causar graves problemas e ao mesmo tempo o feto é anencéfalo, o que quer dizer que vai nascer sem parte ou totalmente sem encéfalo e sem calote craniana o que lhe dará uns escassos minutos de vida após o parto. O feto está destinado a morrer mal nasça. Diz o director Luís Graça do Hospital de Santa Maria de Lisboa que o feto não viverá mais de alguns minutos após o parto devido à ausência de sistema nervoso e que portanto é um feto incompatível com a vida. Apesar destas limitações foram vários os grupos ligados á Igreja, e a própria Conferência Episcopal, a saudar a decisão do tribunal no sentido de impedir a realização de um aborto pelos médicos de forma a tentar salvar a vida da mãe. A enorme religiosidade que se vive nos países da América Latina colide muitas das vezes com os direitos dos cidadãos. “Sinto-me mal com o que se está a passar. Não quero fazê-lo (o parto) sabendo que não vai viver. O melhor que podiam fazer por ele era salvar a minha vida. (…) Não faz sentido prosseguir com uma gravidez de um bebé que não vai viver (…) Eu quero viver, peco-lhes do coração que o façam”. Este foi o apelo dramático de Beatriz lançado num vídeo. Há coisas incompreensíveis neste mundo católico onde por vezes nos apercebemos que Religião não é Vida e que os direitos mais elementares de um cidadão são secundarizados por considerações de índole moralmente desonesta como esta de negar a interrupção voluntária da gravidez a uma mulher mesmo que o feto não vá viver. Na Europa critica-se a perda de religiosidade em comparação com a América Latina no entanto eu perguntaria ao Papa Francisco, um latino-americano, o que pensa ele desta situação abençoada pelos seus pares? É esta falta do sentido de justiça que deve mudar na Igreja. É completamente absurdo que em pleno século XXI com os meios de diagnósticos médicos existentes ainda existam na América Latina cinco países (El Salvador, Chile, Honduras, Nicarágua e Rep. Dominicana) que proíbam o aborto em qualquer situação. Esta proibição deveria dar azo a um forte debate sobre os direitos das mulheres naquele continente à luz destas proibições medievais. A Igreja assim não progride na senda da Iluminação do Ser Humano mas sim no alimentar de dogmas obscuros e anti-naturais que ferem o Homem na sua dignidade.


4 comentários:

  1. Um dos maiores problemas nas relações humanas é o de que muitos de nós temos todas as certezas e os outros, os que não pensam como nós, estão todos errados. Um pouco de caldo modéstia e humildade,tomado de vez em quando, não fazia mal aos que o tomassem e, possivelmente, faria melhor ao mundo.
    Misturar valores aprofundados por outros seres humanos como nós, e dar conselhos, assim como quem quer reformar pensamentos já muito elaborados, pode não ser uma atitude benéfica.
    O Papa conhece melhor os seus irmãos, tais como ele, filhos de Deus e dentro das suas limitações, porque é humano, irá fazer o que entenda mais justo e certo em cada circunstância. Eu sou agnóstico, logo não estou no caminho de Sua Santidade, mas também não barro esse caminho, que, eventualmente, será o mais apropriado, devido, sobretudo, ao conhecimento que ele tem do povo. Cada dia que passa tenho mais dúvidas e não sei de existe assim tanta dignidade no comportamento das pessoas que não têm fé.

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  2. O caro Joaquim tem um pouco a tendência para relativizar as coisas e eu compreendo que tudo não pode ser visto na simples dicotomia branco-preto. Aquilo que me incomodou nesta notícia é colocar-se os valores religiosos considerados relativos ao aborto e ao que isso significa e temos de perceber bem que se trata de um feto incompatível com a vida, sobrepôr estes valores àqueles que são os valores humanos do direito à vida ao tratamento médico. Tão só quanto isso.E acho que já não é pouco. As pessoas com fé ou sem fé podem ter a memma dignidade se não andarem confundidas com as ideias...
    Atentamente

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Embora me sinta com o direito de ter opinião sobre o que se passa à minha volta, respeito imenso também as do outros, porque algumas vezes serão eles que estão mais perto da verdade que eu, porque não sou dogmático. Também não entro muito nessa posição do relativismo que tanto está na moda, e se às vezes não me exprimo de forma clara, parecendo que assim é, é por erro meu e, naturalmente por pouca clareza expressiva. Estou mais perto de ser muitas vezes cartesiano, porque duvido muito que a perfeição esteja sempre encontrada.Quanto ao aborto, entendo que deve ser realizado em situações últimas, como a do feto mal formado ou em situações de violação criminosa e não defendo que seja feito a trouxe moche como muitas vezes sucede, porque a vida é um valor supremo. Obrigado por gastar algum do seu tempo com a leitura dos meus escritos e por comentá-los de de forma tão sincera e correcta, dando alguma vivacidade a este blog, que me parece estar a ser pouco participado, no que respeita às opiniões que podemos emitir sobre os artigos que inserimos.

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