sexta-feira, 14 de junho de 2013

Inferno



James Nachtwey é um fotojornalista que percorre teatro de guerra. Tem alguns livros publicados, essencialmente de fotografias tiradas em zonas devastadas por conflitos militares ou pela seca. “Inferno” é o título de um deles. Muitas das suas fotos são cruéis, mesmo cruéis, e dificilmente conseguimos demorar nelas o nosso olhar. Retrata-nos a crueldade e violência da guerra de forma corajosa, diria eu. Pessoalmente não teria estômago para tirar aquelas fotos. Têm passado por várias zonas. Ruanda, Kosovo, Paquistão. As zonas de conflito espalham-se pelo mundo inteiro e vão mudando de local. Ontem Ruanda, Kosovo, Tchétchénia, hoje Síria. A Síria é uma das zonas mais violentas que podemos encontrar no planeta. Por causa do conflito entre Assad e a oposição 82 mil pessoas já morreram, principalmente civis, cerca de 4,5 milhões estão deslocados e 1,5 milhões encontram-se em campos de refugiados fora do país, principalmente na Turquia. Não sei se James Nachtwey e a sua máquina já percorreram os campos de refugiados à procura da ansiedade, desolação, abandono, tristeza, inquietação e revolta nos rostos dos sírios aí refugiados. Seja qual o for o sentimento predominante nesses rostos, desconheço ainda como ele se revela. Não tenho visto fotografias dos sírios refugiados. É um conflito que ainda têm pouca visibilidade na imprensa diária. Claro que procurando na net encontram-se mas não é fácil. Na zona de guerra predominam as imagens de rua vazias e esventradas. É raro ver pessoas e se as mostram são guerrilheiros ou soldados de Assad. Mesmo a fotografia recentemente premiada com o Pulitzer 2013, atribuído a Manu Barbo por uma foto tirada a um pai com o filho nos braços, morto, os seus rostos quase que não se vêem. O filho tem a cabeça inclinada para trás e o pai chora debruçado sobre o corpo do filho. A fotografia que o “Público” publicou no passado dia 31 de Maio a ilustrar um artigo sobre o conflito na Síria em que mostra um campo de refugiados na Jordânia é eloquente. Parece que este conflito não tem rosto humano no seu sofrimento. A imagem, pertencente a Khalil Mazraawi, é de um gigantesco campo com dezenas e dezenas de pequenas casas pré-fabricadas, alinhadas numa vasta zona. Não se vê uma única pessoa talvez pelo simples facto de o campo ainda não estar aberto. É uma imagem indolor. Não se vê ponta de sofrimento em nenhum rosto pela simples razão de que não há rostos. Até nos podíamos aventurar na imaginação e pensar tratar-se de um campo militar num qualquer país. Um simples acampamento militar. Mas não.

Não fosse a legenda e aquelas casas poderiam servir para muitos fins. Mas ali irão viver, durante um tempo indeterminado, uma quantidade enorme de pessoas fugidas de suas casas dos seus bairros das suas aldeias e, pior que tudo, afastadas de suas famílias. A pergunta-me que me faço é: -Quantos destes campos existem espalhados pelo mundo? Quantas pessoas vivem, ao todo, nestes campos? Não estará a tornar-se demasiado banal esta condição vida? Porque que é que a imprensa tem tendência por suavizar as imagens com que ilustra notícias sobre guerras? Ou será impressão minha que isto acontece? Faça-se um mapa mundial das misérias humanas para ver até que ponto Paulo Nozolino tem razão quando diz que quando era criança não foi preparado para um mundo tão violento em que teria de viver e que iria ser confrontado diariamente com essa violência. Como somos todos nós, digo eu, só que uns são mais piegas do que outros…como é o meu caso. Pieguices…Afinal, vivo na Europa, hoje, e não no princípio do século passado onde o problema do desemprego, por exemplo, não havia pois tinham acabado de desaparecer cerca de 60 milhões de pessoas em escassos 40 anos.

1 comentário:

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