terça-feira, 15 de outubro de 2013

orçamentos e sacrifícios

O Governo apresentou o Orçamento de Estado (OE) para 2014, através da inefável ministra das finanças, Maria Luís Albuquerque. Desde logo, parece-me crível que o que ocorreu hoje, ao fim do dia, é uma mera parte de um Orçamento de Estado. Na verdade, tendo em conta que 2013 comporta, até à data, um OE e duas retificações, não me parece sequer sério olhar para o documento e não pensarmos que será insuficiente e que carecerá de óbvias retificações, tal como os seus congéneres dos anos anteriores. Apesar disto, é natural entendermos que este primeiro documento traça, desde logo, a linha financeira do próximo ano.
Não obstante, o OE conduziu de imediato o país ao debate. Não o país propriamente dito, o da rua, o das pessoas que diariamente palmilham a sua vida, mas o país dos comentadores. E entre estes, surfam nas ondas mais altas os economistas. Estes têm aqui mais uma oportunidade de brilhar, através da discorrência de palavreado conjetural que desagua, inevitavelmente, no avaliamento de credores e devedores, nas alternativas e ausência destas, nas heranças e culpas próprias, nas causas e nos efeitos, nos investidores, nos mercados (claro), na criação de um ambiente saudável para as empresas, no cumprimento das regras, na dívida, etc. A mim interessa-me, todavia, uma palavra, várias vezes dita pela ministra na sua conferência: sacrifícios.
Um sacrifício é, na sua orientação epistemológica, um vocábulo vasto. Com efeito, existem sacrifícios que só com a própria morte se constroem. Por vezes, também se sacrificam animais. Presumo que o Governo e Maria Luís não ajuízam deste modo quando falam de sacrifícios. Dizem que o povo português é um grande povo, sereno, e que está, nesta fase da sua história, a fazer sacrifícios notáveis. Presumo que perder o emprego para toda a vida se enquadre legitimamente no âmbito sacrifical do Governo. É que a relação entre perder ad eternum o emprego e ficar diminuído de algumas concessões contratuais é demasiado óbvia e distante para ser enquadrada na mesma esfera semântica em torno da palavra sacrifício. Por isso, convém articular muito bem as palavras. Não a articulação física, sonora, pois a esta parece que nada há a apontar, mas sim articulação conteudística, aquela que faz a diferença entre o ser sério e o ser um mero bufarinheiro. Ou bufarinheira.

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