quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Os gatos também gostam de nós.


Eu sei que o pródigo e bondoso professor Agostinho da Silva pertenceu a este mundo ausente de ostentações vãs, e longe, muito longe, das vis mordomias, antítese de todos os concidadãos sem escrúpulos que depauperaram e continuam a exaurir o povo e toda a nação lusíada.

Também sei que gostava muito de dialogar com o seu gato, o qual, quase embevecido, o escutava sem enfado.

E eu, igualmente e no mesmo sentido, isso faço com os meus felinos de estimação.

Do mesmo modo vivencial, de se dar atenção aos seres menores que nos rodeiam, o saudoso Manuel António Pina, ‘por outras palavras’, também vivia, prosando e poetando, rodeado de gatos.

Assim, no mesmo sentido de se gostar de animais de estimação, vivem comigo o Brilhante, a Nina e a Tucha, além da dócil cadela Teca e da Quica, a plumosa e alva rola, que me saúda todos os dias com os seus ternos arrulhos.

O Brilhante é fulvo como um tigre loiro; a Nina, de rabo retorcido, é a macia e ternurenta siamesa; a Tucha é um bicolor arlequim e uma ex-sem-abrigo por amansar. Continua agreste, desconfiada e arisca.

Sobre gatos, Miguel Esteves Cardoso, isto escreveu com douta sabedoria: ‘o que me espanta num gato é a maneira como combina a neurose, a desconfiança e o medo – para não falar numa ausência total de sentido de humor – com o talento para procurar e apreciar o conforto e, sobretudo, a capacidade para dormir 20 em cada 24 horas, sem a ajuda de benzodiazepinas.

O gato é neurótico mas brinca. Mas, acima de tudo, descobriu o sistema binário da existência. Que é: dormir faz fome. Comer faz sono. Acordo porque tenho fome. Adormeço porque comi. Nos intervalos, faço as necessidades. ‘

E, pedindo desculpa da minha intromissão, esta prosa assim completo: a diferença entre um cão e um gato é completamente oposta. Se o cão é dependente, o gato é independente. Se o primeiro caça em grupo, o segundo caça sozinho. Se o cão é subserviente e submisso, o gato é insubmisso q.b.

Mas, num ponto são iguais: ambos conhecem o dono. Todavia, isso acontece de modo diferente: um, é um ser canino; o outro, é um puro felino de trazer por casa.

 

José Amaral

 

 

2 comentários:

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.