sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Partidos


O recente episódio da disciplina de voto dos representantes do PSD no Parlamento causou algum estrondo na opinião pública mas é bom notar que, longe de ser um caso isolado, é apenas mais um capítulo na longa telenovela da história da nossa Assembleia da República. Uma telenovela com argumento de faca e alguidar e um casting cada vez mais miserável.

Ao longo dos anos os grupos parlamentares têm oferecido espectáculos deste nível a todos nós sem que ninguém mexa uma palha para fazer cumprir a lei que os próprios deputados desrespeitam. A disciplina de voto no Parlamento é uma aberração democrática e uma alarvidade partidária. Os deputados que a ela se sujeitam deixam de merecer a confiança de quem os elegeu e mostram que o número de cadeiras no Parlamento à disposição dos aparelhos partidários é, pelo menos, exagerado.

Pessoalmente, o que me preocupa é que se estes tipos se comportam assim à vista de toda a gente como serão na intimidade e aconchego das respectivas sedes partidárias? Se perante o país os deputados mostram que a sua liberdade de opinião não vale um chavo tenho dificuldades em imaginar o que será uma reunião para decidir os representantes do partido nas listas seja para que eleição for. Será como escolher cabeças de gado manso para o redil parlamentar?

O sistema partidário, tal como funciona, é um entrave à Democracia. A opacidade das decisões políticas, as negociatas feitas à descarada, o evidente aproveitamento da coisa pública por aqueles que dela deviam zelar sem que isso lhes traga o mínimo amargo de boca, a sensação que o Zé Povo tem de estar a ser constantemente roubado e enganado, deveriam fazer pensar os responsáveis pelos partidos e levá-los a tentar inventar alguma coisa que inverta a actual situação. Caso contrário, talvez a próxima Revolução seja contra eles.

Rui Silvares

carta enviada à Directora do Público (sem a imagem nem respectiva legenda).


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