quinta-feira, 3 de julho de 2014

EXISTE FELICIDADE NESTE MUNDO?



A felicidade sempre foi o grande anseio da humanidade. Há quem não Acredite em sua existência, por confundi-la com momento de prazer, ao invés de tê-la como um estado de plenitude interior (fecundidade, contentamento), como indica o verdadeiro sentido do vocábulo latino que lhe deu origem (felicitas-felicitatis).
Na língua francesa, embora havendo a palavra “félicité” oriunda do Latim, surgiu o termo mais usual “le bonheur”, com significado de boa sorte, acaso favorável, que traduz fielmente o errôneo entendimento popular, segundo o qual, somente pode existir o fugaz instante prazeroso, o momento favorável, e jamais algo duradouro.
O poeta paulista Vicente de Carvalho vê a felicidade como coisa exterior. Diz, em seu belo soneto “Esperança”, que ela existe, sim, mas é algo distante – “uma árvore de dourados pomos, que está sempre onde a pomos, e nunca a pomos onde nós estamos”. Vale dizer, não se consegue saborear os frutos dessa árvore.
O ser humano não vive o presente, não busca o reino do céu dentro de si mesmo. Está sempre sonhando com algo externo, ou seja, um tempo futuro; um céu longínquo depois desta existência; um casamento; um divórcio; uma conquista de bens materiais; uma saúde completa e outras coisas mais. Enfim, faz a felicidade depender de circunstâncias externas, quando ela somente pode ser causada por sua substância interna, como ensina o grande filósofo espiritualista e pensador cristão Huberto Rohden, em seu livro “O Caminho da Felicidade”: “ninguém pode ser feliz se não sacrificar a sua felicidade pela felicidade dos outros”, isto é, só a prática do amor faz o homem feliz.
Este renomado escritor brasileiro, internacionalmente conhecido, foi chamado a Portugal no ano de 1976, para proferir conferências, e criou em Lisboa um grupo de estudos de auto-realização.
Alberto Schweitzer, consagrado músico, resolveu deixar o conforto da Europa, em cujos anfiteatros era freneticamente aplaudido, e depois de formar-se em medicina embrenhou-se na África equatorial, para prestar serviços ao povo mais sofrido do planeta. Uma voz interior dizia-lhe que precisava pagar a Deus a grande felicidade que sentia. Um dia resolveu fazer o pagamento, trocando as luzes da Alemanha pelas trevas do Gabão, e, ao se despedir, agradecendo a ajuda recebida para a construção dos primeiros hospitais, disse ao pai, que era ministro evangélico: “não vou para África pregar o Evangelho e, sim, viver o Evangelho”.
O apóstolo Paulo proclama (II Coríntios, 7.4): “Eu me transbordo de júbilo no meio de todas as tribulações”, demonstrando que se pode ser feliz mesmo no sofrimento. Na sua carta aos filipenses (4.11), afirma que aprendeu a viver contente em qualquer situação. Interessante notar que seu contentamento foi fruto de um aprendizado e segundo Lao Tse, filósofo chinês que viveu no século VI antes de Cristo, “rico é quem vive contente”.
Mensagem atribuída ao espírito Cardeal Morlot, no “Evangelho Segundo o Espiritismo”, Cap. V, item 20, declara que a felicidade completa ainda não é deste mundo tão cheio de misérias, mas aqui se pode experimentar uma felicidade relativa, desde que não se fique invejando os outros, principalmente os ricos, já que estes nem sempre são contentes. Um dia, quando a Lei do progresso promover a evolução espiritual da humanidade, a palavra felicidade não será vã, afirma o espírito.
Realmente, a inveja é fruto do descontentamento e por isso constitui um óbice à conquista da felicidade. Machado de Assis, em seu conhecido soneto “Círculo Vicioso”, retrata o vagalume invejando a luz da estrela, e esta deseja ser a lua, tão decantada em prosa e verso pelos enamorados. A lua, por sua vez, pretende ser o sol, e este, enfarado de sua luminosidade, diz: Por que não nasci eu um simples vagalume!?!
É preciso aprender a ser contente, lembrando o ensinamento do apóstolo dos gentios. Há sempre um vazio dentro de cada criatura humana, que precisa ser preenchido por ela mesma. O poeta francês Chateubriand assevera que o coração do ser humano é um instrumento incompleto, uma lira onde sempre falta alguma corda, e seu canto natural é sempre triste, daí ser necessário colocar o tom da alegria na nota da tristeza.
Em face da lei de causa e feito que rege o mundo físico e metafísico, ninguém sofre sem motivo, por isso cada um deve purgar suas culpas da melhor maneira possível, e resgatar seus débitos, em todas as expiações, sem revolta, para que a felicidade surja, como conquista sua, com a graça de Deus e ajuda dos benfeitores espirituais, os anjos de guarda que nunca nos abandonam.

Vivaldo Jorge de Araújo, ex-professor de História e Língua Portuguesa do Lyceu de Goiânia, escritor e agente aposentado do Ministério Público do Estado de Goiás, no Brasil.

2 comentários:

  1. Claro que existe FELICIDADE neste mundo! Já, em 25/5/1988, tinha cogitado que: QUANDO SE TEM SAÚDE, A FELICIDADE JÁ É GRANDE.

    ResponderEliminar
  2. Quem se lembra de Ghandi, hoje? Só os bem intencionados que procuram o caminho da paz e do respeito pelo semelhante!

    ResponderEliminar

Caro(a) leitor(a), o seu comentário é sempre muito bem-vindo, desde que o faça sem recorrer a insultos e/ou a ameaças. Não diga aos outros o que não gostaria que lhe dissessem. Faça comentários construtivos e merecedores de publicação. E não se esconda atrás do anonimato. Obrigado.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.