quarta-feira, 6 de agosto de 2014

No começo ... e agora

Meus Caros Amigos,

Estou no Douro, na minha longeva aldeia natal. E, como estou numa espécie de retiro longe do massacre diário das más notícias, não leio jornais e pouca televisão ouço, só escuto o pulsar da Mãe Natureza perante o agreste horizonte que o homem tem semeado.
Assim, acabei agora mesmo de fazer este singelo poema que convosco quero comungar.
Ei-lo:
No começo … e agora

No começo era o alvor dos sonhos,
o princípio da leda madrugada.
Era o germinar das sementes
nas searas ondulantes ao vento temperado,
tendo o Sol a bandeira da abundância.

Era a convocatória do porvir, onde todas
as cores do arco-íris estavam representadas.
Era o barco de velas enfunadas
trazendo tudo a seu tempo
para aportar no cais de onde um dia zarpou.

Lentamente, veio o entardecer,
sem que se desse conta de tal contratempo.
E, das ameias dos castelos que restavam,
viu-se todo o tipo de pilhagens, com
a crescente nascença de ervas daninhas.

E, ninhos das mais variadas víboras, impunes a todas as leis,
cobriram a terra fecunda onde nasciam as esperanças de Abril.
E a promissora seiva de novos tempos
escoou-se por entre os escombros da falésia,
a qual, varrida pelo vento suão, sepultou tão alva esperança.

Presentemente, a embarcação de todos os sonhos,
é um desconjuntado monte de destroços.
E todos os que podem pilham hora a hora
o que  outrora outros piratas eram uma miragem
de tais saqueadores de agora.

Actualmente, a seara dos nossos verdes sonhos
já não cintila ao Sol de Abril.
Foi-se na voragem, espezinhada pela cavalgada
de mercenários de fora e com
a conivência de todos os vendilhões pátrios.

Agora, a Pátria, a longeva casa de todos nós,
é uma despovoada e roubada casa portuguesa.
Poucos se gabam de ouvir vagidos de um novo ser,
restando somente escombros e ruínas,
onde outrora se ouviam pregões e risos de crianças.

José Amaral


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