domingo, 23 de novembro de 2014

Labirinto dos labirintos


Este fim-de-semana ficou marcado pela detenção do concidadão José Sócrates, que fora primeiro-ministro de Portugal, anterior ao actual Pedro Passos Coelho.
E o inédito de tal detenção foi ser à chegada do visado ao Aeroporto da Portela, não esperando, as autoridades, pela sua chegada à sua residência, em Lisboa, pelo que se infere que a fuga era, parece-me, quase nula. Assim, a ‘bomba’ teve mais destaque e deslumbramento em toda a sua explosão noticiosa.
E, para regalo premonitório de quem gosta de ler algo que venha a propósito, dei comigo a ler o texto Labirinto com que me/nos brindou Ana Bacalhau em 23/11 na revista dominical comum aos DN/JN.
Fala-nos de um dos seus contos favoritos – A Ovelha Negra, de Ítalo Calvino –, em que todos os habitantes de um país saíam à noite para roubar, até que um dia tal cadeia de roubar oficialmente, pois o Governo também fazia o mesmo, foi quebrada, porque apareceu um homem honesto e honrado que não saía para roubar.
A partir daí, todas as noites, havia alguém que ficava a perder. E, assim, sucedendo, as assimetrias foram crescendo: começaram uns a ficar mais ricos que outros. E tudo por causa do honesto cidadão que, talvez com um ‘visto de latão’ começou a encravar o processo instituído: a corrupção e o poder dos ricos sobre os pobres.
Isto é, a virtude e honradez até podem ser mutiladoras e destruidoras de sistemas políticos, a menos que só nos reste um país de ladrões para vivermos.

NOTA: texto publicado na integra pelo PÚBLICO, em 25/11

José Amaral


1 comentário:

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