sábado, 1 de novembro de 2014

Um bruxo da Guiné!

UM BRUXO DA GUINÉ
Ela entrou em crise! Era bela, belíssima!
Amava aquele rapaz. Queria-o para seu namorado. Infelizmente, o rapaz caíu por outra, enfeitiçado! Ela não tolerou tal.
Seu amor se transformou em ódio por aquela que lhe tinha roubado o seu querido.
Rica como era, a tudo recorreu para cativar seu tesouro amoroso, mas em vão, tudo falhou! Resolveu recorrer a um bruxo, com muita experiência na Guiné.
Era de muita reputação! Muito badalado na imprensa pelas suas eficientes bruxarias. Tinha um poder enorme! Constava que só com a sua própria sombra conseguia transformar o preto em branco! Era muito requisitado! Em eleições dava a volta a qualquer nabo. Em questões de fé, convertia qualquer herético com um pequeno electro-doméstico ou máquina de café!
Perante estas credenciais, a rapariga rejeitada foi a este bruxo famoso apresentar seu caso e, se fosse possível, tirar um curso de bruxaria!
-“Ó minha filha, isso não é fácil”, disse o bruxo no primeiro contacto, e continuou
“-Eu há muito tempo que ando na Liga dos Bruxos.
Tenho tido muitas lições, mas preciso de outras tantas para comer muitos nabos crus e para derrotar o Belzebu das Antas, mas, diz lá o que queres”
A rapariga desfiou seu rosário de queixas amorosas e depois sentenciou:
-“ Primeiro tens que te purificares. Tens que ir nas procissões. Rica como és, tens que dar casas aos pobres e entrares em concursos de sopa de nabos. Comer muitos, mesmo muitos e arrotares de satisfação! Só assim ficarás bem vista e com cara de santa”, e continuou :-“depois fazes o seguinte: envenena um porco com arsénico, recolhes a baba envevenada e acrescenta-lhe cinquenta gramas de raspas secas de pele de crocodilo, duas gota de suor de sovaco de morcego, dois pirilampos cor de laranja e uma garganta de grilo cortada aos bocadinhos, e mais dez gramas de barbas de toupeira. Maceras tudo com um decilitro de ácido sulfúrico e pões tudo a marinar durante dez minutos, em lume brando sob vapores de enxofre!”
-“E depois?” perguntou a raparia, ansiosa
-“Depois arranjas emprego no Café, onde a tua inimiga costuma ir e misturas duas gotas da poção mágica na bebida; café, chá ou laranjada”
-“Eu sei, eu sei”, exclamou a cliente. Eu sei aonde vai aquela sonsa , armada em boazinha. Vai todos os dias ao Café da Santa Casa!”
-“Não tem importância. Com esta poção não há santa que lhe valha”, retorquiu o bruxo.
-“Mas quais são os efeitos?! Quis saber.
-“Faz e verás. São quinhentos contos. Não passo recibo, pois serão gastos em bilhetes de lotaria , que devido aos meus feitiços serão premiados!"
Confiante, a rapariga, depois de ter gasto mais umas centenas de contos na compra dos ingredientes para a poção, preparou tudo de acordo com o Mestre e tratou da cunha para arranjar emprego no Café da Santa Casa. Como de costume, seu ex-namorado e mais a outra lá apareceram naquela noite fria, noite das bruxas. O vento sibilava, trazendo o som dum ténue pio de mocho. Quase já ninguém ligava a essa nostalgia de bruxaria. Tão pouco ao dia das bruxas, mas o que a seguir aconteceu é realmente de pasmar.
Naquele noite fria, os namorados trocavam beijos quentes!
A rapariga, que se sentia atraiçoada, disfarçada de empregada de mesa. esperava, quase que desesperada, pela encomenda..
Até que aconteceu:-“ Traga um chá e um café”, ouviu.
Rápida, bem disfarçada, com óculos e cabelo postiço, serviu as bebidas, mas antes, na bebida da inimiga tinha posto não duas, mas sim quatro gotas da poção recomendada pelo bruxo da Guiné. Ao primeiro gole, logo a poção surtiu efeito e começou a transformação. Os olhos do rapaz quase que exorbitavam. Mas, que estava a acontecer? O que é que estava a ver?
Barba branca na cara da namorada estava a crescer!
Parecia barba de toupeira!
Curioso que ela nem dava por nada.
Absorta, puxou por um charuto, que, magicamente, lhe apareceu ali à mão!
Ela fumava! Meu Deus, ela fumava charuto!
O fumo evolava, evolava, em espirais, ao encontro da estratosfera do tecto da Santa Casa.O rapaz, estava pregado à cadeira. Horrorizado!
O feitiço continuou. A moça cada vez mais barbuda, com bigode à Salvador Dali, e àquela hora, em que fazia muito frio, manifestou desejo de ir passear com velhinhos pelo rio!
-"Pirou, de vez"", pensou a namorado. Não percebia nada do que estava a acontecer.
Envergonhado, levantou-se e retirou-se. A rapariga rica, que muita paixão tinha por ele, seguiu-o e tentou abraçá-lo. Em vão. Ele rejeitou-a, sacudindo alguns pelos da barba.
Então, ela pegou no frasco e, duma só vez, enfiou o conteúdo pela garganta abaixo, ouvindo "eu não posso viver sem ti". suas últimas palavras! De seguida viu-se no céu um grande fogaréu e sentiu-se um grande cheito a enxofre!.
As pessoas presentes, a maioria gondomarenses, diziam que o que tinha acontecido tinha sido obra de algum bruxo, que alguém para a terra o tinha trazido! Outros afirmavam que tal acontecera devido ao preço do chá que a Santa Casa cobrava!
Outros, mais zangados, sentenciavam:
-“Pois! Quem para cá tal bruxo trouxe, agora que se amouxe”, e ficaram à espera de ver um novo fogaréu no céu!
...........................................xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx......................................Autor deste pequeno conteco de bruxas, premiado em concurso literário do JN sobre o tema do dia das bruxas, em 1997: Silvino Taveira Machado Figueiredo (figas de saint pierre de-lá-buraque)

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