domingo, 22 de março de 2015

Papel de embrulho

 
A crise e a trafulhice vieram por bem. Não é que a literacia económica do comum dos portugueses subiu exponencialmente?
Quantos de nós, antes da crise, sabíamos o que são defaults, swaps ,bailouts, bail-ins (bailinhos conhecíamos, mas só na Madeira).
Agora, até sabemos o que são depósitos escrow. Temos todos de agradecer (a tutti quanti nos andaram a aldrabar estes anos todos) pelo enriquecimento do nosso vocabulário e da nossa cultura geral. Vade retro Saramago, Vieira, Camões e Pessoa, que não percebíeis nada de cultura financeira, a “autêntica”, a que interessa aos povos e os engrandece. Saberíeis dizer o que significa hedge funds?
O BES, altar-mor da mais distinta finança portuguesa até há bem pouco tempo, tinha na sua carteira cerca de 740 milhões de euros num depósito escrow. Como se vê logo pelo nome, dirão os eruditos da finança, essa conta-depósito só podia ter um e um só destino: reembolsar os compradores de “papel comercial” (mais uma designação gira: é comercial, mas não é de embrulho) da Espírito Santo Internacional, transaccionado aos balcões do BES.
Infalível garantia! A Deloitte descobriu (deve ter sido difícil…) que 500 milhões desse dinheirito foram desbaratados em fins distintos daqueles para que estavam consignados, acabando nas contas de clientes finos, do “private”. O resto foi parar a outros bolsos.

Assim se consumou uma “potencial” desobediência às ordens do Banco de Portugal. Quero crer que os prevaricadores (Salgado?) serão severamente punidos com um puxão de orelhas, sendo obrigados a pôr as orelhas de burro. Mas sem exageros de crueldade: puxões de orelhas só um e nunca mais do que dez minutos contra a parede. Os incautos serão autorizados a viver calmamente, sem castigos corporais e com as suas ruínas.

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