domingo, 29 de março de 2015

Para Zeinal


Não sei se Zeinal Bava sabe que a passagem mais famosa do mito do rei Midas, aquela em que ele consegue de Dioniso o dom de transformar em ouro tudo aquilo em que toca, não esgota a riqueza que nos oferece essa pequena e imortal narrativa. O pormenor de Midas ser pessoa de raciocínio lento (um estúpido, se não estivermos com rodeios) nem sempre é devidamente salientado.
Após se ter apercebido da enormidade do dom que obtivera, Midas beneficia da compreensão de Dioniso (teve sorte!) e a coisa resolve-se com um mero banho na nascente de um rio.
Mas a tacanhez de espírito de Midas é imensa e irá valer-lhe as célebres orelhas de burro, oferta de um Apolo irritado.

O mito é bem conhecido mas o que mais impressiona é a burrice da personagem, a sua memória curta. Como se a concupiscência decorresse de uma notória incapacidade para compreender o mundo para lá do brilho das coisas doiradas. Midas, ganancioso e estúpido como um calhau, é a imagem da ambição desumana. As orelhas de burro o símbolo da sua glória.

Carta enviada à Directora do Público

1 comentário:

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