terça-feira, 19 de maio de 2015

Centenário do Genocídio Armênio e de continuados massacres no médio oriente

No limiar do século 20, o legendário  império islâmico turco otomano dava sinal de franca  decadência, com dificuldades de toda ordem em manter seus domínios, principalmente em face da pressão exercida pelo então  pujante e ganancioso imperialismo inglês que conjuntamente com o não menos ambicioso imperialismo  francês , disputavam na época  o domínio mundial.
A estratégia do império turco em mandar para o front de suas inúmeras batalhas, que se sucederam ao longo de séculos, filhos muitas vezes ainda adolescentes, de famílias cristãs que  habitavam nos seus domínios, era dentre outros, o principal descontentamento destas populações. Em meio a elas estavam os armênios e os cristãos  sírios.
Este foi um dos motivos do grande êxodo cristão  existente neste turbulento período mundial,  às vezes de famílias inteiras e outras apenas de jovens que, embora gozando de relativa posição social,  tinham na emigração a única saída  para não participarem de guerras,  motivadas sempre por interesses alheios ao seus ideais familiares e patrióticos. Foi  nesta esteira que meu avô  materno      (José Jorge) chegou ao Brasil, vindo da Síria, com apenas 15 anos de idade.
Grande esperança varreu todo o império otomano na primeira década do século vinte, com o golpe militar  que culminou  com estabelecimento de uma  monarquia  constitucional com a deposição do sultão Abdul-Hamid II, colocando em seu lugar o seu irmão paterno Muhammad V, uma figura meramente decorativa, face o governo de fato exercido por um triunvirato composto pelos jovens militares, Enver, Talat e Djemal, em um movimento conhecido na história como governo dos “Jovens Turcos”.
Estes oficiais de maneira imatura frustrou toda esperança de seu povo local e de todos os habitantes  de seu vasto império com uma politica mais repressora de que  todos os governos anteriores, tomou uma medida mais decisiva e desastrosa de toda existência do Império Otomano, propiciando o seu fim     e mudando consideravelmente os rumos da historia contemporânea do mundo, que foi o de  alinhar-se com a Alemanha e Império Austro-Húngaro(antigo e ferrenho inimigo), na primeira guerra mundial.
Uma das primeiras intervenções das forças turcas nesta guerra foi a espetacular defesa dos acessos ao estratégico mar Negro, do forte ataque da então invencível esquadra  inglesa e de seus aliados,  com duração de abril de 1915 a janeiro 1916, cujo  palco de operações  foi concentrada na península de Galípoli no estreito de Dardanelos, e por isso  conhecida na historia como Batalha que leva os respectivos nomes; existindo relatos que a quantidade de mortos em ambos os lados tenham alcançado 500.000 pessoas.  Até hoje, a data inicial desta batalha é efusivamente comemorada no país com presença de chefes de estados de nações convidadas.
É interessante ressaltar que as forças capitaneadas pela Inglaterra sofreram nesta batalha, que era para ser a maior operação anfíbia de que se tinha noticia, a considerada mais humilhante derrota em sua  longa história. O comando desta frustrada  operação coube a Winston Churchill( futuro herói da segunda grande guerra), então Primeiro Lorde do Almirantado inglês, cuja derrota veio marcar toda sua vida.
 As tropas turcas foram comandadas com grande maestria  pelo então desconhecido jovem oficial Mustafá Kemal, futuramente conhecido como  Atatürk (pai da Turquia), por ter sido herói da resistência turca contra a pretensão  inglesa e aliados de dominação de Istambul e de toda  península de Anatólia (o que restou do vasto império otomano)  e no governo, ter conseguido modernizar o pais.
Estimulado pelas surpreendentes  vitórias conseguidas nesta batalha e aproveitando a grande popularidade alcançada, o governo turco concluiu que este seria o momento apropriado para solução final do que eles chamavam de “questão armênia” e da necessidade de abafar movimentos separatistas na península arábica, notadamente na Síria.
A data  24/04/1915 ficou marcada na história macabra do mundo, como início da tenaz perseguição ao indefeso povo armênio por parte da Turquia Otomana, comandada pelo governo dos Jovens Turcos, no chamado Genocídio Armênio, conhecido também como Holocausto Armênio, que constituiu na deportação forçada  e  consequente mortes  entre um milhão e um milhão e meio de pessoas de origem armênia , com a intenção de exterminar sua presença cultural, sua vida econômica e seu ambiente familiar. Esta covarde e desproporcional agressão a este ordeiro e pacifico povo, infelizmente nunca foi reconhecido pelos anteriores e atuais governantes da Turquia, que tem insistido em ferir o consagrado  principio universal: “Um genocídio não termina enquanto não for reconhecido”.
Nesta mesma época  foi enviado à Síria o então ministro da marinha e membro do triunvirato de governo, Djemal, para sufocar qualquer iniciativa de independência, que o fazendo com tamanha brutalidade lhe  valeu o apelido de “Açougueiro de Damasco”. Embora não exista   contabilização das mortes, presume-se que tenha sido muito grande, constituindo um verdadeiro massacre pouco relacionado  nos livros de história e não reconhecido pela Turquia.
 Convém lembrar que barbaridades como esta, ao longo da historia, não foi somente exclusividade dos otomanos, em 1946, Damasco foi alvo também de um covarde bombardeio por parte da França, com morte de centenas de inocentes civis, fato esse que tem sido camuflado e pouco divulgado pelas nações ocidentais.
A realidade atual desta região é ainda mais complexa do que foi no passado, pelo incremento do chamado apelo econômico decorrente da exploração petrolífera e por ter ainda que conviver com o lixo trazido pela malfadada  consequência  da chamada Primavera Árabe.
A situação tem desafiado os mais experientes estrategistas especializados em assuntos do médio oriente, ninguém se arriscando em dar uma previsão consistente sobre o desfecho final do que poderá ali acontecer.
Restando uma remota  esperança de solução, ainda que seja pela interferência estrangeira,  principalmente pela posição mais sensata e pacifista (em relação aos seus antecessores) do presidente Barack Obama, no trato com os inúmeros e aparentemente insolúveis  problemas locais, caracterizado pela continua e persistentes mortes de inocentes.

  Orivaldo                                                ori@uol.com.br
 

Artigo publicado no jornal Diário da Manhã de   Goiânia- Go , Brasil -  no   dia   18/05/2015,  no caderno   Opinião   Pública   pg. 5   -   Site do jornal: http://www.dm.com.br/

3 comentários:

  1. Obrigado amigo Orivaldo pela lição de história. Não concordo é consigo quando diz que a remota solução pode estar em Obama. A raposa nunca pode defender o galinheiro. Os EUA que apoiaram os Talibans no Afeganistão, voltaram a fazê-lo em relação a toda a escumalha fanática e criminosa na Líbia e na Síria. Fazem-no sempre por razões estratégicas e em relação a governos que não lhes obedeçam.

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  2. Não importa que seja Obama ou Putin, o que interessa é que hajam Homens de boa vontade, que tentem evitar genocídios de qualquer jaez.

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