sábado, 9 de maio de 2015

Ter orelhas grandes e ser gozado, pode dar dinheiro

Então era dinheiro! Bem me parecia que a palavra dinheiro tinha mais significado do que a palavra dignidade. Muito bem, resumindo: Alexandre, participante do casting do programa de entretenimento do programa “Ídolos” que aconteceu a 27 de Março em Lisboa, foi alvo de uma brincadeira de mau gosto da equipa de produção. Aumentaram-lhe as orelhas e Internet ficou revoltada com a brincadeira, porque achou que passou todos os limites. Cheguei a cruzar-me com comentários em que diziam que se tratava de um episódio “desumano”, “infeliz” e até mesmo “horrível”.  

Claro que estes casos mediáticos servem também para retirar algumas figuras públicas do armário. Já vi tanta barbaridade e hipocrisia que até me deu vontade de vomitar o veneno todo que tinha visto com os olhos. Até de pessoas ligadas à comédia em Portugal, vi realizarem lindos discursos de hipocrisia, quando no passado eles já fizeram bem pior. Na altura chamava-se de humor, agora chama-se de “bullying”.

Para além das figuras públicas, houve também uma boa quantidade de professores que mostraram o seu desagrado, porque ao que parece, o miúdo em questão é estudante do 10.º ano de Ensino Especial do Agrupamento de Escolas Gaia Nascente. O que não deixa de ser irónico. Professores indignados com qualquer coisa, e a mostrar publicamente que estão revoltados com algo, deixa-me um pouco desconfiado, porque é uma profissão que está constantemente a ser rebaixada e que pouco ou nada têm feito para mudar isso. Adiante.

Claro que isto tinha de reverter para qualquer coisa útil, ou não fosse a notícia que hoje o Jornal de Notícias apresenta: “O estudante de 16 anos que, no episódio de domingo do concurso televisivo "Ídolos", apareceu numa montagem como "cromo" e com orelhas gigantes, diz-se vítima de bullying e garante que vai processar a SIC.” – Evidentemente que isto tinha de dar algum retorno aos encarregados irresponsáveis de educação do miúdo. Então, mas quando se assina um contrato para um programa com claros registos passados, de alvo de chacota, a probabilidade de acontecer algo é bastante reduzido (que rica ironia). E sim, ao que parece a avó do menino, achou que ele cantava muito bem e autorizou que ele fosse lá.
Pelo que se sabe, o participante em causa nem sequer passou à fase de estar perante o júri (era demasiado bom) e ficou apenas no pré casting. "Disseram-me que desafinei um bocado e mandaram-me embora". Algo completamente normal e com um fim esperado.

"O sofrimento do meu neto vai ter um preço e vai ser bem elevado", diz Isilda Pinto, mas também podia dizer que foi um acto de enorme irresponsabilidade seu, mas não, para o português a culpa é sempre dos outros. A vida até está complicada e a oportunidade de tirar daqui algum dinheiro é bem elevada (pensa ela) por isso, o melhor é mesmo colocar as culpas todas no dito programa.

Volto à minha: eu não acho correcto o que se fez com um miúdo, mas não sejamos falsos moralistas. De repente somos todos espectaculares e nunca gozamos com ninguém. Não faz sentido. O Ídolos é um programa que já é transmitido na nossa televisão há mais de 10 anos e já vi situações bem piores do que a que aconteceu no passado Domingo.

A era digital é gira. Toda a gente se revolta com tudo, contudo a moda passa e passamos a ser os animais que éramos antes. Ainda és “Charlie”? Não me parece.

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