quarta-feira, 12 de agosto de 2015

O DINHEIRO

O DINHEIRO
O dihheiro é tão bonito,
Tão bonito, o maganão!
Tem tanta graça o maldito,
Tem tanto chiste o ladrão!
O falar, fala de um modo…
Todo ele, aquele todo…
E elas acham-no tão guapo!
Velhinha ou moça que veja,
Por mais esquiva que seja,
        Tlim! Papo.
E a cegueira da justiça
Como ele a tira num ai!
Sem lhe tocar com a pinça,
É só dizer-lhe: Aí vai…
Operação melindrosa,
Que não é lá qualquer cousa;
Catarata, tome conta!
Poi não faz mais do que isto,
Diz-me um juíz que o tem visto:
           Tlim! Pronta.
Nessas espécies de exames
Que a gente faz em rapaz,
São milagres aos enxames
O que aquele demo faz!
Sem saber nem patavina
De gramática latina,
Quer-se um rapaz dali fora?
Vai ele com tais falinhas,
Tais gaifonas, tais coisinhas…
         Tlim! Ora…
Aquela fisionomia
E lábia que o demo tem!
Mas numa secretaria
Aí é que é vê-lo bem!
Quando ele, de grande gala,
Entra o ministro na sala,
Aproveita a ocasião:
“Conhece este amigo antigo?”
 -Oh! Meu tão grande amigo!
-            Tlim! Pois não !    
-         Nota – Versos do poeta e pedagogo algarvio João de Deus,
-          o mesmo  da célebre Cartilha Maternal ,1830-1896, transcrito por
-         Amândio G. Martins





    

         



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