quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Carta de agradecimento

“A realidade acaba sempre por derrotar a governação ideológica”; finalmente Cavaco conseguiu produzir uma ideia com alguma substância. Como é costume, vou tentar perceber o que quer ele dizer com isto.

Parece-me evidente que Cavaco Silva pretende dizer-nos que a realidade é constituída em partes iguais por economia e finança, sistema bancário e sistema monetário. Esta fórmula da realidade esmaga qualquer tentativa de fazer com que a ideologia, seja ela qual for, possa sair da sua Caixa de Pandora e venha desorientar as opções de vida das pessoas. Cavaco explica-nos algo que ele já interiorizou há muito, muito tempo: a realidade materializa-se em números e tabelas, fórmulas de cálculo e gráficos com setinhas. Tudo o mais são contos infantis, como disse um dia Pedro Passos Coelho.

Cavaco e Passos conhecem bem a realidade. Graças a eles a economia e a finança, o sistema bancário e o orçamento de estado têm sido, no nosso país, protegidos dos ataques descabelados da ideologia, mantendo-se ancorados na firmeza do mundo verdadeiro. Graças a eles a realidade é o que todos, agora, sabemos.

“A realidade acaba sempre por derrotar a governação ideológica” pode muito bem constituir um precioso legado que Cavaco nos deixa antes de se retirar da vida política; ele que sempre desprezou os políticos e amou, apenas, os economistas, os empresários corajosos e os gestores bancários; acima destes apenas Deus, Nosso Senhor. Não esqueçamos este ensinamento luminoso vindo de um homem presciente que nunca tinha dúvidas e raramente se enganava, um homem que não se importa de ser o Sr. Silva, este estadista visionário, modesto e imbuído de um abnegado espírito de missão que o levou a oferecer os melhores anos da sua vida à causa pública.

Termino esta carta agradecendo a Cavaco tudo que ele fez por nós: a boa governação, a honestidade acima de tudo, a sua extraordinária capacidade para entender a realidade, que tantos dissabores poupou ao bom povo português, que, com um fervor quase religioso, repetidamente lhe pôs nas mãos a bússola e o leme da Nação.


Obrigado Cavaco. Bom Natal. Depois podes ir-te embora de vez. Não precisas de voltar.

carta enviada à Directora do jornal Público a 23 de Dezembro 

1 comentário:

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