sábado, 19 de dezembro de 2015

O AQUI E AGORA

Contrariamente ao que possa parecer, as pessoas essencialmente movidas pela avidez de dinheiro ou posses são basicamente doentes, segundo Spinoza. Ora, a sociedade capitalista é uma sociedade doente, onde o sucesso depende do modo como as pessoas se vendem bem no mercado, do modo como impõem a sua personalidade. Depende do facto de serem joviais, sadias, agressivas, ambiciosas ou "honestas". Ao vender a sua personalidade, o ser humano sente-se e é uma mercadoria, sendo, ao mesmo tempo, o vendedor e a mercadoria a ser vendida. A pessoa desinteressa-se pela sua vida e felicidade, preocupando-se apenas em ser vendável. As questões filosóficas ou associadas ao sentido da vida não constituem preocupação para essas pessoas. Eis a podridão a que chegámos. Podridão e doença. Afinal, os loucos, os inadaptados é que estão perfeitamente sãos. Afinal, o que importa é o ser, o aqui e o agora. De acordo com Erich Fromm, redigir as ideias dá-se no tempo mas concebê-las é um acto criativo intemporal. A experiência do amor, da alegria, da apreensão da verdade, não ocorre no tempo, mas aqui e agora. O aqui e agora é eternidade.
Na sociedade mercantil o tempo reina. Cada acto tem que ser rigorosamente cronometrado. Além disso, o tempo é também dinheiro. Mais terrível ainda: os nossos valores superiores ainda estão associados à masculinidade- ser mais forte do que os outros, sair vitorioso, conquistar outros povos e explorá-los. Para Aristóteles, pelo contrário, a mais elevada forma de práxis, de actividade, é a vida contemplativa, dedicada à procura da verdade. Daí que tenhamos que virar este mundo de pernas para o ar. Acabar com toda a alienação, com toda a lavagem ao cérebro, com toda a publicidade. Isto precisa mesmo de uma limpeza geral. Ousemos. Provoquemos. Desafiemos. Derrubemos todos os poderes.

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