segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Por qué no te callas?

Cada vez mais me sinto desiludido com Cavaco Silva. A última descoberta do sr. presidente cessante é que a “governação ideológica acaba sempre por ser derrotada pela realidade”. Quer ele dizer na sua que só se pode/deve governar sem ideologia? Mas então, isso não é, em si mesmo, uma ideologia? Quem quer enganar este professor? Ora, o que ele provavelmente queria dizer e não lhe chegou a língua, é que não se deve governar com ideologia “de esquerda” porque, na sua fraseologia atabalhoada, a direita, a tal que se subordina aos superiores ditames dos mercados, não precisa de ideologias e assim é que se conquista a felicidade dos povos. Melhor não diria Salazar, para quem o português comum deveria confinar-se à irrelevância política, deixando-se de “ideologias” e adoptando como sua a conhecida frase “a minha política é o trabalho”. Não satisfeito com tantos pensamentos profundos, Cavaco não prescindiu de alertar os portugueses para os perigos da falta de confiança dos empresários investidores no nosso País, sobretudo se os seus cidadãos insistirem em andar por aí a pensar alto e a difundir “ideologias”. Não sei se o sr. presidente cessante se referia aos empresários do sector financeiro que, amparados por governantes “pragmáticos e sem ideologia”, como os do anterior governo, não param de dar as “barracas” que lhes apetece e apresentar, no final, as respectivas facturas aos de sempre, os tais que se devem afastar de “ideologias”.  Só me apetece plagiar o antigo rei Juan Carlos: por qué no te callas?

Público - 26.12.2015 

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