sábado, 27 de fevereiro de 2016

"As vitórias morais"

Eu tinha acabado de chegar de Águeda, porque andara lá a ajudar a limpar a lama que por teimosia do mau tempo, ali permanece. Entrei por isso no Dragão com algum atraso e ainda com as galochas nos pés. Já no estádio, acomodado, perguntei ao parceiro do lado como estava a decorrer o jogo, e ele que vestia de azul e branco, segredou-me em tom de clandestinidade (ali tem que se usar de certos cuidados), que os gajos já podiam estar a ganhar. Iam 15 minutos, e eu retorqui;- “já?”. E ele juntou - “tibemos sorte”. E eu - “então por que é que FCP está à defesa e não se arreganha para esses aspirinas. “. Que não. Assim talvez os enervássemos, até os adormecêssemos, e depois e tal seriam favas contadas. Aceitei a narrativa mas não gostava do que estava a ver. Os bávaros trocavam a bola a seu bel-prazer, e o FCP corria atrás dela como os tolinhos quando jogam contra o Barça. À medida que o jogo avançava eu concentrei-me mais na equipa alemã, pois dizem que eles acabam sempre por sair vencedores dos acontecimentos, conferências, reuniões, acordos, tratados, os mais diversos eventos em que entram, etc. O jogo já com algum molho caído do céu, ia consumindo o tempo regulamentar, até que aos 23 min. a baliza do FCP foi violada e reviolada por dois remates, sujeitos agora a contestação à portuguesa. e o marcador passou a estar favorável aos aspirinas cheios de vitamina. O, 0-1 estava feito, e o resto é mais bandeira menos bandeira no ar. Bola ao centro que o baile vai continuar. E continuou. De pé para pé, para aqui e por ali, o Borússia, trocava a redondinha, enquanto os de azul e branco metidos lá atrás procuravam apanhá-la para surpreender os merkelianos. Aqui e ali surgia um esforço deste e daquele elemento da equipa da casa, mas morria no último terço, que é aquele em que se deposita toda a fé e uma réstia de esperança. Virei-me de novo para o parceiro do lado e perguntei-lhe porque razão o FCP parecia estar a defender o resultado, que lhe era prejudicial. Ele olhou para mim com ar zangado, e disse-me:- “bê-se logo que o amigo não percebe nada de vola. Então não biu que o árvitro está feito com eles?Tambénhe com essas galochas bê-se vem de onde bem”. Então foi quando pela primeira vez na minha vida, quer como espectador quer enquanto atleta, reparei que um treinador de futebol de alta competição, fez um gesto cândido e eloquente, para dentro ou para fora do campo, e juntando duas mãos, como em oração, ao rosto,  enviou-nos uma mensagem para ir-mos tomar um café e dormir. Eu tirei as galochas, enfiei as pantufas e fui fazer aquilo que ele recomendou. A “lama” no Dragão continua por remover, e por lá ainda vai necessitar de muito trabalho. Pese a quem peseirar!

*pubicado hoje no DNotíciasMadeira

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