PARA UM DIÁLOGO
DAS CIVILIZAÇÕES
Ainda do
livro de Roger Garaudy:
As pirâmides
foram edificadas em vinte anos por cem mil escravos, que também construíram
diques e canais para trazer a vida, ao mesmo tempo que construíam as pirâmides
para proteger o faraó contra a morte. Do ponto de vista científico estes
gigantescos túmulos têm prodígio: as formas foram calculadas com tanta precisão
que não se poderia introduzir uma agulha entre dois blocos de pedra. Pitágoras
trouxe das suas viagens ao Egipto os princípios da geometria que nos transmitiu.
As pirâmides
são também verdadeiros poemas, espantosas “tendas” de granito, imagens de um
mundo construído pelo homem, acto de fé no poder humano, revelando a presença
do deus. O aspecto moralizador das inscrições testemunham-no; esta, por
exemplo, que figura sobre um sarcófago: “não fiz chorar, não causei sofrimento
a ninguém”. Ou a que figura no “livro dos mortos”: deu pão aos famintos e água
aos que tinham sede; vestiu os que estavam nus. Os justos são chamados à
alegria da terra”.
A história do
Egipto conhece um curioso intervalo de alguns anos cuja importância é tal que
vai influenciar todas as civilizações que a seguem. O faraó Akhenaton, no sec.
XIII antes da nossa era, tem alma de profeta. Inventa o monoteísmo e esforça-se
por transformar a humanidade mudando a consciência que o homem tem das suas
relações com o divino.Escreve um dos mais belos poemas da história humana: o
Hino ao Sol.
Apareces,
magnífico, no firmamento do Céu,
Disco vivo,
que inaugurou a vida.
Desde que
brilhes, as plantas nascem e crescem para ti.
Quando a
humanidade acorda e se põe de pé
És tu que a
fazes levantar-se.
Estas quantas
recordações do estranho Egipto são relatadas pelos gregos e figuram na Bíblia.
O Hino ao Sol é quase decalcado no salmo 104 de David. Resumindo, a visão do
mundo a que chamamos ocidental data de mais de três mil anos antes da nossa era
e toma forma fora da Europa, no Egipto e na Mesopotâmia.
A ruptura do
Ocidente relativamente às suas fontes orientais conduz a um empobrecimento do
homem, cujo contraste é brutal em relação à visão oriental do mundo, que une o
amor da natureza e a piedade para com os homens, rejeitando o individualismo
ilusório para tentar fundir-se com a natureza.Algures no mundo continuam a
desenvolver-se culturas que implicam relações de amor com a natureza e relações
entre os homens que rejeitam o individual e o totalitário em proveito do
comunitário.
Apenas o
Ocidente, esta pequena província da Ásia, escondida atrás do Ural e na
periferia do Mediterrâneo, com o seu dualismo, o seu individualismo, o seu
racionalismo unidimensional aparece como uma excepção infeliz na epopeia humana
começada há três milhões de anos em África e que prosseguiu durante sessenta séculos
em quase todos os continentes até que o Renascimento ocidental, pela posse de
armas infinitamente mais destrutivas que as do passado, subjugue e domine o
mundo, ao abafar todas as outras culturas.
Transcrito por Amândio
G. Martins
Obrigado, amigo Amândio, por nos trazer aqui tão interessantes reflexões.
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