CONTINUANDO
COM ROGER GARAUDY
Do séc. XVI
ao séc. XX o desenvolvimento da nossa civilização ocidental foi comandado por
três postulados. Primazia do trabalho – é agindo sem descanso que o homem
manifesta toda a sua grandeza; puritanos ou jacobinos, tiveram a religião do
trabalho. Primazia da razão – a razão pode resolver todos os problemas e os únicos
problemas reais são os que a ciência pode resolver. Infinito quantitativo – em nome
deste postulado pode crer-se num aumento sem fim do crescimento e definí-lo
como puramente quantitativo da produção e do consumo.
É em nome deste postulado que as nossas
sociedades funcionam, como se tudo que é tecnicamente possível fosse desejável
e necessário, quer se trate de fazer armas nucleares cada vez mais poderosas,
automóveis ou aviões que se deslocam cada vez mais depressa, mesmo que seja
para chegar a parte nenhuma. Estas sociedades ditas desenvolvidas funcionam
segundo o princípio de criar necessidades e desejos os mais artificiais e
nocivos para produzir em seguida os meios de os saciar.
Crescimento
do lucro ou desenvolvimento do homem? É preciso escolher. Hoje opõe-se os países
ditos “desenvolvidos” e os países “subdesenvolvidos”, que chamamos em vias de
desenvolvimento, quando cada um sabe que as diferenças entre as duas categorias
não pára de aumentar. É fácil demonstrar que desenvolvimento e
subdesenvolvimento se condicionam e engendram um ao outro, porque o
desenvolvimento do Ocidente teve por condição necessária a pilhagem e transferência
das riquezas, sendo o Ocidente quem subdesenvolveu o que hoje chama Terceiro
Mundo.
O facto da
Europa ter passado do feudalismo ao capitalismo estimulou o estudo das leis da
natureza para a sua exploração económica. A superioridade europeia não se deve
a uma superioridade de cultura, mas à vantagem na marinha e nas armas, tendo
começado a grande razia das riquezas do mundo.
Na África, a
cultura dos cereais, o uso dos utensílios de ferro e a cerâmica remontam aos
primeiros séculos da nossa era: cultura em terraços, rotação de culturas,
adubação vegetal, alternância de culturas. A ocupação colonial impõe
monoculturas em função dos seus interesses, o que conduziu a grandes fomes.
O capitalismo
europeu, tornado o centro de um sistema mundial, criou a escravatura,
deportando milhões de seres humanos, transformando a África num entreposto
comercial para a caça aos “peles negras”, marcando a aurora sangrenta da era
capitalista e condenando à regressão o continente africano, pela hemorragia dos
seus melhores braços.
Este tráfico
odioso não se “limitou” à deportação de alguns milhões de homens e mulheres
porque, por cada cativo, contavam-se geralmente dez mortos; calculando, no mínimo,
em dez milhões o número de escravos deportados, significa cem milhões de seres
humanos destruídos. Jamais o mundo conhecera semelhante genocídio.
Seria fácil
traçar a genealogia das grandes dinastias capitalistas. O célebre Barclay´s
Bank foi fundado por David e Alexandre Barcaly, traficantes de escravos, e com
o lucro do seu tráfico, em 1756. Os criadores da Lloyds, rainha mundial dos
seguros, eram proprietários de pequenos cafés quando se lançaram no tráfico de
escravos, que fez a sua primeira fortuna. James Watt exprimiu o seu
reconhecimento eterno aos negreiros que financiaram os seus estudos sobre a máquina
a vapor, tal como Malthus imagina a sua “Teoria da População” que inocenta os
crimes dos patrões.
Transcrito
por Amândio G. Martins
Excelente! Obrigado amigo Amândio
ResponderEliminarTambém lhe agradeço a gentileza, senhor Ramalho.
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