sábado, 2 de julho de 2016

Ser benfiquista
A TVI24 apresentou uma reportagem, da autoria de Vitor Bandarra, sobre os ditos hinos do Sport Lisboa e Benfica, sendo o antigo, “Avante, avante, pelo Benfica” (1929), com letra de Félix Bermudes (1874/1960) e música de Alves Coelho (1882/1931), interpretado pelo Orfeão do clube e o actual, “Ser benfiquista” (1953), numa fantástica interpretação do tenor Luís Piçarra (1917/1999), com letra e música do Dr. Manuel Paulino Gomes Júnior (1912/2000). É interessante o facto de nenhum destes importantes benfiquistas ser lisboeta. Félix Bermudes nasceu no Porto, Alves Coelho, em Arganil, Paulino Gomes, em Aldegalega, actual Montijo e Luís Piçarra, em Moura.
Para fazer a crítica à qualidade destes hinos, foi convidado o maestro António Vitorino de Almeida, que se pronunciou, de forma nada abonatória, sobre a qualidade destas peças musicais, entendendo que nenhuma tem características para ser hino do clube e apelando para que se faça um outro hino. Os autores do primeiro hino foram pessoas de reconhecido mérito no campo da cultura, pois Félix Bermudes para além de ser um homem de letras, especialmente nas áreas do teatro, foi tradutor de diversas obras de grande valor literário, como o “If” de Rudyard Kipling, tendo sido membro fundador e presidente da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses, e como cidadão político, exerceu o seu dever cívico, fazendo parte das listas da Oposição Democrática de 1949, apoiando a candidatura de Norton de Matos. Sobre Alves Coelho, o seu mérito como compositor, autor de muitas composições de música ligeira, na época teve reconhecimento do público e dos pares. O maestro Vitorino de Almeida desvalorizou estas obras, dizendo que não tinham condições para serem consideradas como hinos, utilizando os vocábulos “pindérico” e “marcha fúnebre” e de entre outros defeitos, o de 1929, ser muito comprido.
Quanto ao “Ser benfiquista”, entendeu o maestro que era difícil de interpretar, porque não tinha a verdadeira qualidade de hino, e que a letra tinha algo de ridículo, como o verso “São papoilas saltitantes”, o que a minha sensibilidade de poeta me diz, o crítico está a retirar as palavras do contexto, pois este verso dá sequência ao que o antecede, e que completa o sentido da mensagem, “Que nos campos a vibrar”/ “São papoilas saltitantes”. Isto entra no campo da liberdade poética, que é aceitável. O Dr. Manuel Paulino Gomes Júnior pertence a uma família tradicional republicana muito respeitável e foi um causídico respeitado no foro e um musicólogo de mérito, para além de bom pianista. Já o pai, o Dr. Manuel Paulino Gomes (1888/1972), advogado e professor, foi um homem de letras, fundador e director dos jornais a “Razão” (1917), e “A Liberdade” (1922), político republicano e lutador pela liberdade durante toda a vida. A filha de Paulino Gomes Júnior, Manuela Paulino, foi locutora da TV e esposa de Luís Feist e mãe dos artistas Nuno e Henrique Feist.
“Ser benfiquista”, pode, pelo crítico, ser considerada apenas uma canção e não ter as características clássicas de hino, mas sendo adoptada pela alma benfiquista, que a sente nos momentos mais importantes da vida do clube, isso é o que importa porque é a realidade. Quanto ao 3.º hino, neste momento, parece-me uma proposta descabida e de mau gosto.
Joaquim Carreira Tapadinhas – Montijo, BI 9613, TM 962354823 - jcatapadinhas@gmail.com


2 comentários:

  1. O António Vitorino de Almeida tem razão: comparar os jogadores do Benfica a papoilas saltitantes é no mínimo ridículo. Eu quase que diria mesmo que é ofensivo à dignidade de cada um dos profissionais do SLB.
    Sendo portista de gema, divirto-me imenso sempre que ouço tamanha alarvidade!

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  2. A sensibilidade poética é um dom que nem todos têm. Daí, nem sempre ser comprendida, do que não vem mal ao mundo. Obrigado por ter comentado, ainda que não sinta a profundidade do poema.

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