quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Já se dão livros para que se leia...

Há dois dias, uma notícia no Público deixou-me boquiaberta: "a Biblioteca de São Lázaro e a Junta de Freguesia de Arroios unem-se numa iniciativa que pretende distribuir gratuitamente 2500 livros pelas ruas". (Qual o critério de seleção das obras?- não percebi). Vemos, na foto que ilustra o artigo,  livros colocados em bancos de jardim. Mas podem igualmente ser «caçados» em cafés e quiosques. (Caçar livros?) .
"Ler e conhecer mais livros traduz-se em mais conhecimento. E as pessoas mais informadas são pessoas mais livres”- os organizadores desta iniciativa «leva-me contigo» querem que as pessoas tenham menos medo dos livros...os livros são levados e distribuídos na rua, porque as pessoas não vão às bibliotecas buscá-los...
Que pena, que desperdício...ter livros para se ler gratuitamente e não fazê-lo. É preciso levar a comida à boca de tanta gente... Fazer-lhes a papinha toda?
A Itália, por seu turno, procurando fomentar hábitos culturais,  vai  fazer aquilo que o presidente da Sociedade Portuguesa de Autores, José Jorge Letria, partilha hoje connosco: o Governo de Matteo Renzi vai oferecer 500 euros a cada jovem que complete 18 anos durante 2016. Cada um deles poderá dispor dessa quantia unicamente em gastos com museus, exposições, aquisição de livros , concertos e outros eventos culturais.
Cada um a seu jeito, Portugal e Itália como exemplos, procuram levar os jovens a consumirem mais cultura e a "tornarem-se cidadãos mais activos e críticos graça a esse consumo".
Depois , há um outro aspecto que o escritor e jornalista realça: no caso da Itália, ( claro), a Cultura recebe o mesmo valor que o combate ao terrorismo e à segurança!
Pergunto eu: qual será o combate / batalha mais fácil de travar, o fomento de hábitos culturais entre a população ou a luta anti- terrorismo?
Estas duas notícias espantosas e admiráveis (o deixar-se livros na rua para serem 'caçados' e desejados, etc.) , levaram-me a retirar Alberto Manguel (1948) da prateleira (Uma História da Leitura) para recordar o seu amor pelos livros : "Cada livro era um mundo em si e nele eu procurava refúgio. os próprios livros eram talismãs (...). Lia estes livros com um cuidado especial e guardava-os para momentos especiais." Manguel fala-nos de um professor (Idade Média) que aconselhava os seus alunos a pegar num livro para o levar e beijar, como se de um tesouro se tratasse!
No século XXI, talvez já não haja mais tempo nem paciência para o silêncio e a reflexão e o pensar que exige a leitura...ou Talvez, acredito nisto, seja necessário, reaprender (em casa, sobretudo, pelo exemplo dado pelos pais) este amor pelos livros.
E , finalmente, ponho -me a pensar na privacidade não só da leitura, mas também na decisão sobre o que ler, na escolha dos livros;
e que o amor pelos livros pode acontecer como um amor à primeira vista, ou um amor de verão, mas a maioria das vezes não;
e vai ler-se mais se os livros forem dados? ; e, finalmente, a poucos dias de se iniciar o ano letivo, a leitura será mais uma vez o problema.
Como despertar o interesse pela leitura e pelo conhecimento das matérias e de si mesmo ?

2 comentários:

  1. Todas as ofertas públicas que tenham a intenção de fomentar a leitura são bem vindas e não é necessário começar a classificá-las como melhores umas que outras. Os jovens não lêem porque a escola não fomenta tal hábito e os programas não os orientam nesse sentido. Os bons hábitos não devem ser perdidos e, por isso, seria bom que os exemplos referidos neste artigo proliferassem.

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  2. Pouca gente lê. E, se lê, não compreende o que leu. E milhares de alunos não sabem interpretar o que lêem. São uns analfabetos com a albarda, digo, mochila cheio do que não manuseiam. O essencial, hoje em dia, é terem um telemóvel topo de gama, mesmo que sejam uns sem-abrigo. Esta sociedade é o caos a todos os níveis sociais e comportamentais. Eu chego a cheirar o que leio. Estarei ensandecido?

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