quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

CARTA AO PAI NATAL





Querido Pai Natal,

Sei que não vai ser fácil. Este ano os céus estão atafulhados de tráfego aéreo, no transporte das pessoas de um lado para o outro, cada vez mais, frenéticas a saltitarem constantemente de pouso em pouso; e dos aviões da guerra, que andam imparáveis, para fazerem muito mal cada vez em mais sítios, ou só ainda a assustarem com o seu ruído trovejante, a quem persiste na ilusão de viver num mundo seguro.

A falta de neve também não ajuda. Como podes tu levantar voo sem neve e fazer as tuas entregas, acertando em todas as chaminés que tens de acertar, e com uma intensidade de tráfego assim, que nem sequer respeita prioridades, uma das regras mais elementares da circulação dos veículos?

Por todas estas razões e outras que sei que tens, quase não queria escrever-te a minha habitual e anual carta de pedido de presentes. Mas a tradição é para se manter. Perdemos isso, e onde é que este mundo vai parar? Sem referências!

Aqui vai, encurtei a lista para não te dar mais trabalho e aliviar-te do peso de seres tudo e só tu, praticamente o único dos deuses que ainda não nos abandonou. E mesmo não fazendo muito pelas coisas da moral e da dignidade e da compaixão (palavra de utilização muito difícil), que também não é tua competência, continuas a cumprir e bem a tua missão: dar um sorriso de alegria do efémero, distribuindo os presentes de Natal

Para este ano quero:

Um médico de família

Ser atendido por um médico em caso de urgência hospitalar.

Poder usufruir se for caso disso dos melhores medicamentos que existem para tratar as doenças, independentemente de ser utente do SNS ou ter um bom seguro de saúde.

Que os meus filhos tenham a possibilidade de serem preparados com bons currículos adaptados ao seu enriquecimento humano e aos desafios do mundo real.

Não ter que pagar os manuais escolares.

Que os meus filhos se possam alimentar equilibradamente nas cantinas escolares a um preço exequível e justo.

Que os meus filhos consigam um emprego condigno com as suas expectativas, preparação e mérito.

Que possam ter casa própria, pagar os créditos, os bens de necessidade e terem ainda uma sobra que lhes permita usufruir do bem estar de alguns prazeres pessoais.

Ganhar o suficiente para ter uma vida digna.

Continuar a ganhar o suficiente para continuar a ter uma vida digna depois dos sessenta anos.

Que os meus pais e os outros pais possam ter condições decentes para os seus finais, sem ter que se pagar uma fortuna para ter acesso a cuidados a acompanhamento.

Descontar e contribuir com o que for equilibradamente possível, sem prejuízo da  qualidade de vida,ou em benefício de outros que por meios duvidosos, conseguem fugir às suas obrigações, aproveitando-se da minha boa vontade.

Ter uma justiça justa.

Ter uma justiça que julgue os crimes em tempo útil, que culpe ou desculpe com eficácia.

Que baixe sobre a terra um vírus eficaz e que todos os políticos se achaquem da doença da mudez permanente e da incapacidade, por disfunção dos seus tuneis carpios, da possibilidade de escreverem e exararem ditames e ordens demagógicas.

Conseguir ler um bom jornal do principio ao fim.

Que os telejornais de todas as cadeias de televisão deixem de abrir os jornais da noite com notícias de dez minutos sobre futebol.

Que os programas de radio das manhãs deixem de ter apresentadores sem graça absolutamente nenhuma que acham que a têm e que não sabem falar português.

Deixar de ser espoliado pela EDP.

Deixar de ser espoliado pela GALP.

Ter em casa a velocidade e a capacidade contratada com as operadoras de telecomunicações, que não cumprem, enganam e passam a vida a telefonar a desoras  oferecendo novas “funcionalidades”, que já existiam no pacote anterior.

Ter ruas asfaltadas. 

Os carros não estacionarem em cima do passeio.

Poder apanhar o barco para o Barreiro sem ter de esperar uma hora depois de o autocarro que me trouxe da Expo me ter deixado na estação fluvial.

Que o metro renasça e cumpra a função.

Que os polícias sejam bons e educados e profissionais com os bons, e sejam maus, mal-educados e profissionais com os maus.

Que se apaguem os  incêndios florestais, e as dívidas de manutenção com helicópteros avariados.

Querido Pai Natal não quero ser abusador e fico-me por aqui, muito contente de ver no sapatinho algumas destas prendas que tanto desejo. Se não for todas não há mal: já fica o pedido feito para os anos seguintes.

Desejo-lhe um Feliz Natal e que todas as suas expectativas para 2017 se cumpram.

Um abraço amigo e considerado,





3 comentários:

  1. O meu bom amigo quer milagres, coisas que só existem na imaginação de alguns. Contudo, é bom sonhar, nem que seja por segundos. Um abraço e Feliz Natal.

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  2. O Pai Natal já não tem pachorra - penso eu - para dar resposta a tantos justos pedidos. Tinha que cá andar todos os dias do ano para ver se endireitava o que sempre torto está.
    Desejo-lhe, companheiro de luta da palavra escrita, umas BOAS FESTAS, extensivas a todos aqueles que frequentam estas paragens.

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  3. retribuo com votos de um bacalhau valente, umas belas batatas e couves, doces com a fartura e gosto de cada um. Tudo isto regado com um belo vinho, ou melhor, um belo de um bom vinho.
    Tudo o resto é conversa e não espero ter tanta prenda boa. só lhe escrevi a carta mais por descarga de consciência: pode ser que dessas, alguma coisa calhe.

    Abraço para todos.

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