segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

De Almaraz, nem bom vento...

     A maior catástrofe ecológica da Península Ibérica aconteceu há 15 anos, na Galiza. Foram derramadas 67 mil toneladas de crude no mar e algumas consequências ainda se sentem. O actual 1º ministro espanhol, Mariano Rajoy, à época ministro do Interior e chefe de coordenação daquela mortífera poluição, a propósito, disse:« que eram pequenos fios de plasticina». Desinformou e minimizou o impacto da tragédia... e nem foi constituído arguido. A criminosa impunidade voltou a ganhar à Justiça. 
     Agora, o mesmo Rajoy e seu executivo decidem construir aterros para lixo nuclear da Central atómica de Almaraz - unilateralmente, ao contrário do que agendava uma reunião com o Governo de Portugal sobre a matéria - para encontrar uma solução. O projecto de construção de aterros é
transfronteiriço, daí o nosso ministério do Ambiente ser parte integrante e dever ser ouvido. O Direito Ambiental Europeu foi desrespeitado. A
Central nuclear de Almaraz dista 100 quilómetros da nossa fronteira e as cidades de Portalegre e Castelo Branco são as que estão mais próximas. As águas do rio Tejo refrigeram a Central. Nos últimos meses houve sete incidentes em Almaraz, um dos quais grave, e a empresa que rege a construção dos armazéns do lixo nuclear tem alguns processos em tribunal... Não há avaliação e estudo de impacto ambiental nesta matéria. As águas do Tejo servem humanos, animais e agricultura e os acidentes de Chernobyl, Fukushima, etc., não podem vir a ser eventuais repetições directas para os ibéricos. Querem prolongar a vida de Almaraz, para lá do ano de 2020. Contudo, cientistas afirmam que há dez anos deveria ter sido encerrada. Portugal não tem energia nuclear, devendo exigir que não haja risco de acidente nuclear encostado à fronteira. 
   O ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, apresentará queixa formal contra o executivo espanhol, à Comissão Europeia, sobre este melindroso assunto. Caso Almaraz estivesse encostada à fronteira de França, as autoridades espanholas seriam desrespeitadoras?... 
   Esta gravíssima e deliberada falha espanhola é inclassificável.

                                      Artigo de opinião de Vítor Colaço Santos 



3 comentários:

  1. Estes governantes portugueses que não sabem governar o seu país, por isso estamos onde estamos, levantam a gripa para se intrometer com decisões do vizinho. Almaraz está a 128 Kms da fronteira portuguesa, 224 Kms de Madrid e 428 Kms de Lisboa. É preciso construir um espaço para armazenar resíduos e vão criar instalações para esse efeito junto da central, pois não iriam pô-las noutro lugar. Ouvidas as populações locais que têm trabalho nessa central, onde os salários não são inferiores a 4.000 € mensais, estas percebem a situação, ainda que o perigo esteja à sua porta. Pergunta-se ao nosso ministro do Ambiente, onde entende que devem construir o "cemitério dos resíduos".

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    1. A propósito do seu comentário, como sempre lúcido e imparcial, contextualizando-me como sempre faço na situação, confesso que foi isso mesmo que pensei logo que soube da notícia.

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  2. Publicado, hoje, dia 4.01.2017, no jornal "Público".

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