terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Desapego

Estranho desapego experimento.       
Estranha é a calma que me invade.           
Serena sensatez sem fundamento,           
da paz que vem agora, quando é tarde.     

Eu tive o teu amor, mas certamente        
os sonhos que eu sonhei não eram meus.          
Vivia no teu mundo aparente         
onde te adulava como a um deus              

Mil dias vi nascer à tua espera.              
Mil noites vi chegar sem que viesses.       
Ciladas da ilusão, duma quimera            
que cedo me agarrou sem que o quisesse. 

Eu fiz versos pra ti sem tu saberes.          
Palavras te escrevi que tu não leste.         
Segredos que guardei, como deveres
desse amor pecado que me deste.            

Agora que o fim está iminente        
já nada mais fará que volte atrás             
e os sonhos que sonhei intensamente       
pra mim já pouco importam, tu verás!     

Estranhas a indiferença que aparento            
depois dos muitos anos que te amei?        
estranhas mas não sabes o que lamento    
de ver aquilo em que me transformei.       






6 comentários:

  1. Poema duma profundidade amorosa caldeada pelo desencanto. A Florbela Espanca não fez melhor. Parabéns pela capacidade genial de o construir.

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  2. Sempre generoso nas suas avaliações. Obrigada
    Florbela Espanca, como gosto da sua triste poesia.

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  3. O amigo Tapadinhas não exagerou. Também adorei. Excelente. Parabéns!

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  4. Fátima.... Uau! Que força apaixonada! Muito belo e intenso. Parabéns.

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