segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

A oncologia do Hospital de S. João

Acompanho a minha esposa nas Consultas de Ginecologia Oncológica, Oncologia Médica e Hospital de Dia de Oncologia do Hospital de S. João, há mais de um ano. A partir deste privilegiado observatório que é o de um marido que partilha as dores da doença da esposa, tenho tirado  as seguintes conclusões seguras. Superando-se a si próprios e tapando com isso a negligência do Estado, administrativos, auxiliares, médicos, enfermeiros e farmacêuticos são inexcedíveis na competência e no zelo com os doentes, apesar da quantidade de trabalho que realizam e da carga emocional violenta que os doentes oncológicos lhes transmitem. Da negligência do Estado dão testemunho a exiguidade dos recursos humanos, bem como das instalações, nomeadamente a falta de condições das salas de espera do Hospital de Dia e a sala dos tratamentos. Não tenho conhecimento da estatística do número de doentes, consultas, cirurgias e tratamentos de quimioterapia, nem preciso de os ter porque se vê, à vista desarmada, que são números avassaladores. Como tenho por lema propor sempre soluções para os problemas que critico, aqui vão duas sugestões: - uma dirige-se ao Senhor Presidente da República, para que tenha em gesto de apoio e estímulo para com estes nobres profissionais, gesto que tanto pode ser uma condecoração como, idealmente, uma visita a estes Serviços; outra sugestão dirige-se aos cidadãos eleitores (e candidatos a doenças oncológicas no futuro) para que nas horas da verdade (dias de eleições) exerçam um protesto firme contra o Estado. Quem não tem sido confiável para nos ajudar na doença, também não é confiável noutras matérias.

José Madureira

4 comentários:

  1. Respeitando o que disse o meu amigo e colega José, permito-me perguntar-lhe: o que está a sugerir quando diz que, nas eleições, "os cidadãos exerçam um protesto firme contra o Estado"?
    Nota: não sei bem se os textos de alguém publicados por outrem permite que os nossos comentários sejam lidos pelo primeiros, é assim Céu? É que se não é, são somente desabafos...

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    1. Caro colega e amigo Fernando,
      Muito obrigado pela tua atenção ao meu texto e pela análise pertinente que lhe fazes. Reconheço que a passagem cuja clarificação me pedes que faça está redigida de forma obscura. Vou tentar clarificá-la. O que eu queria dizer era:
      - "que os cidadãos exerçam um protesto (votos em branco) contra os Artigos da Constituição, da Lei eleitoral e da Lei do financiamento dos partidos que suportam o actual Estado de Direito acomodado à partidocracia e desatento relativamente aos mais nobres objectivos do "Governo da Pólis", dos quais a Saúde é o número um"!
      Se não concordares com a substância, que, ao menos, te agrade a nova redacção.
      Um grande abraço do teu colega, amigo e admirador,
      José

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  2. Obrigado por me responderes, José. Bom, o que penso é que o teu apelo ao voto "em branco" mas assim duma forma abstracta e ainda para mais nos temas que enumeras, é uma utopia até porque isso seria para... uma revisão constitucional.Agora que o voto em branco é um direito de cada um, lá isso é!
    Quanto ao SNS, tem cautela (digo eu...) pois foi aí que eu, tu e e tantos outros vimos a Medicina singrar e a Saúde portuguesa também, não concordas?
    Abraço e melhoras para a tua esposa.

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    1. Olá Fernando! Obrigado pelo teu comentário à minha resposta.
      Quanto ao SNS, estou totalmente de acordo contigo. Já por mais que uma vez “saí a terreiro” em sua defesa. De uma das vezes, a minha intervenção até mereceu uma palavra de louvor do Dr. António Arnault. Quero contar-te, sem pretensiosismo, mas apenas para saberes, que, tendo-me aposentado aos 62 anos, fiz assiduamente a consulta externa de Nefrologia no S. João, um dia por semana, durante 7 anos, “pro bono publico”. Só pela necessidade de prestar mais cuidados à minha esposa a abandonei há 3 meses.
      Quanto à revisão da Constituição, concordo que foi mal “metido” no contexto da minha opinião sobre a Oncologia, o voto de protesto.
      (Mas não acredito que algum dia os actuais partidos a alterem e a submetam a referendo; muito menos acredito que oiçam as nossas propostas sobre eventuais alterações. “Eles” não apreciam muito a intervenção política fora dos partidos; e mesmo dentro dos partidos…).
      Aproveito para te felicitar pela carta de hoje ao Público (“Os editoriais e o sistema”); és sempre brilhante.
      Obrigado pelos teus votos de melhoras para a minha esposa. Um abraço!

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