segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Há dias assim!

Desde há cerca de dois meses que tenho tido dias desagradáveis. Têm-me chegado à caixa do correio electrónico perguntas de amigos e desconhecidos, a quererem saber qual a razão porque não tenho aparecido na página do leitor, no espaço das cartas de desabafo e de comentário, mais ou menos aceitável, de autores diversos. Andam admirados alguns leitores que já não dispensam ir dar uma olhadela naquela página, para lerem as minhas e as outras redacções, que nós outros e também leitores do mesmo, escrevemos e enviamos com a melhor das intenções para o jornal que por vezes as respeita e as publica. Já hoje contei para aí umas seis ou oito pessoas fiéis, que apreciavam a minha opinião, ousadia, o meu estilo, as minhas queixas, lamentos, irreverências, sobre os casos e a sociedade que nos envolve a todos, e atormenta alguns. E não são poucos, os que sofrem e os que são ofendidos, pelos que nos guiam e nos cegam ao mesmo tempo, por entre enganos e meias verdades, "para as tornarem mais seguras, e atingirem profundidade". Na minha qualidade de desempregado de longa duração e sem qualquer tostão caído seja lá de onde for, dedico-me aos biscates, e nos intervalos a arrumar carros, tal como os jornalistas arrumam palavras e as ordenam nos textos que lavram, para quando chegar a hora de lhes pegar, eles não se engasgarem numa atrapalhação em que ninguém se entende. Arrumar carros e palavras é quase a mesma coisa. Só que uns escrevem em cima do tampo da mesa e no PC, e eu escrevo em cima da capota dos veículos estacionados, nos tais intervalos, com a preocupação de não riscar o tejadilho alheio, o que já não se passa com os jornalistas, que riscam das cartas que lhes chegam, as palavras que lhes não agradem, e até as deitam ao lixo após as amolgarem por entre os dedos. Para mim escrever é uma forma de matar o tempo, enquanto para os jornalistas será um expediente profissional para mitigar a fome. Mas cada um tem o que merece e paga ou recebe por aquilo que vale. Eu estou desde 2011 sem trabalho, e nunca tive por este desempenho qualquer remuneração ou subsídio de nenhuma natureza. Nunca me inscrevi sequer no IEFP, porque tinha que andar com um impresso, de loja em estabelecimento, a pedir trabalho e um carimbo, para fazer prova da minha vontade em deixar de escrever palavras incómodas para os jornais, sem disto tirar proveito nem pagar imposto. Valha-nos isso e a dignidade que resta. Mas ando aborrecido. Mais pelos meus leitores que afinal descobri que os tinha, do que pelo meu estado de pobreza aceite com nobreza, e de cabeça erguida. Só que há um problema mais. É o número de pessoas que sabendo da minha actividade e do meu paradeiro, não me dão descanso, e querem que eu lhes explique, ali entalado entre carros, o motivo por que é que fui banido da página do jornal aonde eles costumavam encontrarem-se comigo. É óbvio, que eu de imediato os remetia para a Direcção do jornal em causa, e os incentivava a serem eles a porem-lhe essa questão, já que entre mim e a redacção do dito não há comunicação, e mesmo após ter pedido uma banal justificação do meu apagamento, como quem foi cortado das fotos bolcheviques do conjunto sépia de outros casos revolucionários, ela me tem sido negada. Eles ouvem e fazem um ar de espanto, e ao virar as costas desalentados, ainda lhes oiço – “é pena. Lia o jornal quase só por isso, e pelas palavras cruzadas. Sabe. Eu de futebol já ando cheio, e as suas provocações ao nosso jeito, ainda era o que me motivava a ir até à biblioteca, ao café e ao clube social, ler o jornal. Paciência. Vou lendo outras coisas, tais como quem bate mais nas mulheres e nos pais, crimes, governantes e administradores corruptos, polícias absolvidos por baterem forte e feio e elogiados na Corporação e até por juízes afectos ao sistema, desfalques em tesourarias de Instituições públicas, novelas sobre os colarinhos brancos, adopções esquisitas de crianças retiradas aos pais, indicadas pelas técnicas da Segª Social que os juízes ratificam e lhes perdem o rasto. Olhe! Sei lá mais o quê. Fico é triste por o não poder ler. Você sempre tinha mais piada e sabia morder-lhes as canelas...” - Obrigado. Respondi eu. Mas não sei que lhe fazer. Estou arrumado, também. Fui posto na lixeira, como está Portugal posto pelas agências de rating. As de Notação, repeti. Creio que entenderam. Quem lê sabe sempre mais, e eles, até pode ser que leiam coisas finas destas, e as entendam até melhor do que eu!


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