segunda-feira, 6 de março de 2017

Aproximadamente


Nós, portugueses, encontramos uma forma de exprimir, sem rigor, realidades que queremos transmitir com a exactidão possível à vista desarmada.
Quando nos perguntam o tempo de espera a que fomos sujeitos num qualquer serviço público ou fila de pagamento, respondemos prontamente, "cerca de um quarto de hora".
Mas se um turista nos pergunta a distância até um destino desejado, logo sai: "são aproximadamente 20 quilómetros".
Também um amigo quer saber o custo de um casaco que vestimos há muito tempo, não nos lembrando bem, sempre arriscamos: "pr'aí uns cem euros".
Quando vamos à feira, pedimos à vendedeira: "olhe! ponha aí meia dúzia de laranjas, mais coisa menos coisa".
E há sempre a resposta a um cumprimento do amigo, "então como é que estás?", com o indefinido habitual: "mais ou menos".
Claro que quando nos perguntam a hora do desafio de futebol, respondemos com quase certeza absoluta: "se não me engano é às oito e meia".
Na conversa sobre alguém que vimos há pouco, ainda bem fresco na memória, afiançamos muito convictamente: "vi-o há sensivelmente 30 minutos".
Todos estes exemplos e muitos mais enriquecem a linguagem corrente que nos ajuda a comunicar uns com os outros.
E uma língua viva está sempre a evoluir.
Ora, nos últimos dias, a julgar pelas opiniões de alguns políticos e também de analistas dessa área, criou-se mais uma expressão, em que o rigor não é importante, segundo estes: "dez mil milhões para baixo ou dez mil milhões para cima".

Barros Correia

2 comentários:

  1. Bem visto Joaquim! Olhe, embora talvez (cá estou eu a ser "português"...) seja excessivo da minha parte,durante a II Guerra Mundial o Salazar também "nos" deixou "mais ou menos" nazis (ideologicamente) e "mais ou menos" pró-aliados (interesseiramente), ou seja... neutros. E talvez (ups!) ainda estejamos a pagar esse "falso equilíbrio" no ter ficado de fora da democracia e do desenvolvimento do pós guerra.

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    1. Não está nada a ser excessivo. Também estou de acordo consigo, no que se refere à triste sina que Salazar nos deu, arredando-nos de espírito aberto e democrático. E não tenho dúvidas de que, por muito que disfarcem, temos ainda muitos seguidores seus, embora mais vaidosos. Com apreço.

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