sexta-feira, 10 de março de 2017

Aprender com os inimigos


Créditos da Imagem: Fundação Instituto Marques da Silva

Hà 17 anos atrás, tinha acabado de chegar de comboio á Estação de São Bento na cidade do Porto . Nessa altura, entre a estacão e a Avenida dos Aliados havia um túnel para peões. Eram 8:30 da noite e estava atrasado para uma aula. Como estava algum trânsito e o semáforo para peões estava vermelho, decidi correr pelo túnel.
Mal desci as escadas, dei de caras com 3 jovens. Puseram-se á minha frente. Um deles agarrou-me pelos colarinhos do casaco e encostou-me ás grades de uma antiga tabacaria. Outro revistou-me os bolsos enquanto o terceiro estava alguns passos atrás a ver se vinha alguém.
Numa fracção de segundos , sem pensar muito , olhei nos olhos do que me estava a agarrar e perguntei-lhe:
"Como é que te chamas?"
Tão surpreendente como a pergunta foi a resposta;
"Chamo-me Pedro." - disse o meu novo amigo inesperado.
Entusiasmado pelo sucesso da diplomacia, não me fiquei por aqui:
"E tu? Como é que te chamas?" - perguntei ao que me revistava os bolsos e que acabava de encontrar a minha carteira num dos bolsos do casaco.
Depois dele ter respondido com um revirar de olhos, decidi perguntar ao terceiro que surpreendentemente também respondeu.
As fracções de segundos entre as perguntas e as respostas pareciam demorar horas.
Quando finalmente o último respondeu, ganhei coragem e disse:
"O meu nome é Jaime. Sou de Ermesinde. Podem abrir a carteira. Tenho 120 escudos que é o dinheiro que preciso para comprar o bilhete de comboio de volta para casa."
O que tinha a carteira na mão abriu-a e confirmou o que lhe tinha dito.
O que me segurava os colarinhos começou a aliviar a força, olhou para mim nos olhos e disse:
"Toma a carteira, e nunca mais passes por aqui a esta hora."
Quantas vezes já esteve numa situação de desvantagem em que a derrota ou o prejuízo parece ser inevitável ? Quantas vezes desiste porque parece que não vale a pena fazer nada? Quantas vezes desiste de comunicar porque pensa que não vai ser ouvido?
Em todos esses momentos o foco está em si ou nos outros? Pensas nas suas necessidades ou nos interesses dos outros?
Demasiadas vezes pensa que não é capaz, que está em desvantagem clara e que não vale a pena sequer lutar por um sonho, porque a força dos outros é maior? Mas porque é que pelo menos não tenta de uma forma genuína fazer tudo ao seu alcance?
Muitas vezes os interesses dos outros só interferem com os seus porque eles não percebem que afinal são as suas necessidades.
Instintivamente, e conhecendo as suas limitações, concentre-se naquilo que pode fazer nesses conflitos. Trate os seus inimigos como pessoas: faça-lhes perguntas, ouça-os e pense nos seus interesses.
Não pode escolher pelos outros, mas pode mostrar respeito, interessar-se por eles e comunicar de maneira simples e eficaz.
Sabe o nome dos seus inimigos? Já pensou nos interesses deles?
De uma forma genuína e autêntica trate os seus inimigos como pessoas. Se tiverem algo seu, diga-lhes o que isso significa para si. Talvez se surpreenda com o resultado.

1 comentário:

  1. A sua "história moral" é bonita embora eu seja bem mais pessimista que o Jaime. Só por curiosidade lembrei-me duma outra comigo passada no mesmo local, e aquando do tempo de inauguração do túnel. Era sábado e eu jovem estudante universitário. Corria apressado para não perder o comboio e um fim de semana com os pais e irmãos e, como a hora de partida "queimava", não desci ao túnel e fui pela superfície. Espanto meu, do outro lado estava um "senhor guarda" que, muito zeloso me queria multar em 2$50 (vinte e cindo tostões, lembram-se?...) o que me impedia o fim de semana pois só tinha uma nota de 20 escudos ( uma "verdinha", recordam?) e o bilhete do comboio custava... 19$9o! Bom lá me armei com um "patuá" e coloquei no cabeça do polícia um "peso na consciência" e... lá tomei o "Trofa a Fafe". "Moral": como o Jaime, foi com "lábia" que embarquei mas, no meu caso era a "autoridade e nos seu eram "bons ladrões"...

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