quarta-feira, 5 de abril de 2017

A falsidade do Mês de Abril a fazer pactos com o Mal






Poderia dizer-se que este mês de Abril está perto de ser o melhor de todos por ser o mês das flores, dos pássaros, das abelhas e de todos os enamorados que se passeiam mais enamorados ainda porque o tempo está a ficar agradável e é bom sair à rua.
Poderia dizer-se que é um mês que já nos deu muita felicidade, e esperanças então, nem se fala.
Pode dizer-se tudo isso e é verdade, mas custa dizer-se que também está a ser um mês da maldade que anda à solta, espalhando ódios, medos enormes, devastações, desprezo da vida humana, o regresso de todas as barbáries.
Não sabemos se por amarguras pessoais, suas e intimas, está a ficar um mês diferente, transformou-se, tornou-se dúbio, já não é confiável.
É uma pena que assim seja. As flores obviamente continuarão sempre a serem lindas, os pássaros livres quase todos e as abelhas a produzirem mel e serem muito laboriosas, mas as pessoas estão diferentes.
Umas apáticas, estão cá como se não estivessem, distraídas somente por consumos fátuos e imediatos simples e à mão; outras estão mais apreensivas, intervêm, dizem, falam mais alto, escrevem sulcando sulcos nas páginas do papel, mas não têm eco de nada. Do outro lado vem o silêncio; outras ainda travestiram-se em piores, monstruosas mesmo, fazendo todo o mal a que já antes se assistiu e sofreu, e agora parece estar a voltar, tomando insidiosamente conta da epiderme da terra, espalhando-se pouco a pouco, em manchas de caos e guerra que alastram sem nenhuma contenção.
Abril pode se continua assim, perder o lugar no pódio dos meses mais belos do ano. Que se cuide, há quem o queira destronar, e tem argumentos para isso. Maio é muito simpático e parece de boa índole. Junho é de festa, bailarico e sardinha, é pacífico.
Eu não gostaria que nada disto acontecesse, porque sou um nostálgico e daí fiel. Este mês já nos deu muitas alegrias, mas ontem deu-nos uma enorme tristeza, difícil de perdoar.

Por todos os inocentes que sofrem o pesadelo inimaginável das guerras, só posso dar a minha palavra. É o que tenho para a ajudar a divulgar o horror. Pode ser que com ela alguém mais poderoso do que eu desperte, e aja com todo o seu poder para acabar com uma tragédia bufa alimentada pelas diplomacias, a mais hipócrita das retóricas humanas. 


2 comentários:

  1. Tragicamente belíssimo, como sempre, o seu texto, Luís. Deixe-me relevar, comentando, as últimas linhas do 5º parágrafo - "fazendo todo o mal... insidiosamente conta da epiderme da terra" - pois acho que "esse mal" já ultrapassou a referida "primeira camada da pele" e, pelo menos, na "derme" já vai, fazendo caminho rápido até aos cerne do nosso ser...

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  2. Falta um "tomando" antes do "insidiosamente", como é óbvio.

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