quarta-feira, 19 de abril de 2017

Hepatite A: a via de transmissão é, sempre fecal-oral!

Escrevo esta carta por imperativo de consciência. O PÚBLICO publicou hoje (5/4) duas páginas sobre Hepatite A, a propósito do surto desta doença na Europa. E "afligi-me", confesso, porque os textos escritos são muito confusos e ainda erróneos. Para além de falarem muito.empolando, de contactos homossexuais e outros envolventes, tem um erro crasso ao dizer que a "via de transmissão da doença é fecal-oral mas também por alimentos, água contaminada ou má higiene das mãos" (sic)! Ora bem, a via é sempre fecal-oral! Dito dum modo mais entendível, o vírus é expelido pelas fezes dum doente e chega à boca de outra pessoa que é então contaminada. Agora o modo como é transportado das fezes ( ou do ânus) até à boca de outrem é que é variável, a saber: através das mãos que tocaram as fezes e foram mal lavadas, de legumes ou água onde as fezes tocaram ou directamente através de sexo oral-anal (cunilingus). Portanto, nunca através da injecção endovenosa de drogas nem de outros contactos sexuais, desde que haja higiene. Um exemplo deste último caso: uma relação de sexo anal em que, depois da penetração ( ou não) haja o cuidado de lavagem esmerada das mãos após toda a outra higiene genital, é sexo seguro em relação à Hepatite A. Aqueles que o jornal chamou de "grupos de risco" são mais "comportamentos de risco" mas só o são devido àqueles gestos poderem estar esquecidos por razões adjuvantes óbvias e não por quaisquer outras. Tudo  isto em relação à via de transmissão, pois quanto à possível gravidade da doença ( que é benigna numa pessoa previamente sã), quando associada à SIDA ou outras doenças pré-existentes, isso já seria outro assunto que não cabe aqui discutir.

Fernando Cardoso Rodrigues
Pediatra

NOTA: esta carta, tal e qual, foi enviada ao "Cartas ao Director" do PÚBLICO em 5/Abril mas não mereceu publicação. Sei bem que é o exemplo dum tipo de carta que deve ser endereçada ao "Provedor do Leitor" mas, infelizmente, aquele jornal não quer saber da existência desta figura fulcral na interface leitor-jornal. É lamentável e até, na minha opinião, "antidemocrático", mas "é o que temos"!

3 comentários:

  1. Por vezes ter Provedor ou não o efeito é o mesmo, na práctica!!!!

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  2. Não é não! Falei muito com o José Queirós e o Paquete de Oliveira e tenho muito boas recordações!

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  3. Pois, também da m/ parte aconteceu o mesmo.

    Mas ambos tentaram influenciar mudanças que nunca aconteceram, dado que "outros valores se impunham"...

    Verdade???????????????????????'


    ...................logo , ......

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