sexta-feira, 7 de abril de 2017

O AVÔZINHO FOI AO MÉDICO E VOLTOU FELIZ
Como já sabem, sou aquele velhinho que de vez em quando vos escreve. Ora quero dizer-vos que passei um mau bocado nas últimas duas semanas, e passo a contar-vos.
Habitualmente vou à tasquinha da Palmirinha, onde saudavelmente passo uns bons bocados com os meus amigos, e não só para falarmos do passado, da nossa juventude e da nossa família, mas também para nos divertir e instruir com a ajuda do jornal e da televisão, que a Palmirinha tem sempre acesa.
E aí é que começou o meu problema. É que estavam sempre a aparecer uns senhores e umas senhoras, que eu já conhecia, a dizer que se estivessem no governo iam acontecer umas coisas maravilhosas.
E repetiam muitas vezes. Que davam maiores reformas. Que aumentavam mais os salários. Que baixavam as rendas da habitação social (onde moram os meus filhos). Que baixavam os impostos. Que não deixavam mais ninguém roubar os bancos. Que melhoravam os serviços públicos. Que a gasolina ia ficar mais barata. Que não tiravam os pobres das suas casas nas cidades. E mais uma catrefada de estórias.
Claro que comecei a ficar com dúvidas do meu estado mental, e nem comentava com os meus companheiros com um certo receio de parecer um drogado. Comecei, portanto, a duvidar do meu estado mental; ou será que já tinha morrido, e do lado de lá era assim?; ou seriam sintomas dessa doença esquisita que lhe chamam de Alzheimar?.
Em casa, a minha filha começou a notar a minha tristeza silenciosa, e disse-me que eu estava com uma grande depressão, mesmo sem eu lhe ter dito nada. Obrigou-me a ir ao médico, e eu lá fui com ela.
No consultório, o Sr Doutor lá puxou por mim, muito simpático, por acaso, e eu muito a medo lá lhe contei as dúvidas que me apoquentavam o espírito.
Ouviu-me com muita calma, com um sorriso muito carinhoso, e no fim, mandou-me uma palmada nas costas e disse-me muito alegremente: " - Oh Homem, você ainda está mais gozão do que quando era novo. Você vem-me pr' aqui falar duns mentirosos duma forma tão séria, que quase me convencia! Vá-se embora e a consulta é de borla!"
E saí feliz da vida, pensando com os meus botões: " - Era o que eu pensava".

Barros Correia
7/4/2017

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