É branco e tem uma pequena mancha cinzenta numa das asas, tem bico curto e achatado. Dele nunca ouvi um pio. Quando o olho parece que está sempre a sorrir. Estará ele feliz? Ou encobre uma tristeza profunda marcada pela sua enorme solidão?
Pergunto-me diariamente o que fará ele ali. Junto às águas sujas da ria. Esteja maré cheia ou vaza, esteja vento, sol ou chuva. Esteja quem estiver, lá vem ele. Voando alto e determinado, mas sem nunca encontrar o que procura. O que será? Será fé? Será liberdade?
Ao mesmo tempo que escrevo, um pequeno barco de pesca aporta no cais. Um velho farfalhudo repara no pardalito solitário: “Nunca o tinha visto por aqui” – diz ele segurando um balde cheio de caranguejo.
“É um pescador desatento” – digo eu – “Ele passa cá todos os dias, à mesma hora.”
O velho retira a boina suja e coça a cabeça, ao mesmo tempo que observa o branco-de-mancha-cinza-na-
E remata: “Sabes, eu acho que ele anda à procura de um amor antigo. Tal como eu que entro nestas águas todos os dias em busca do que perdi há muitos anos atrás...”
Calei-me. Remeti-me ao pensamento... E se este pássaro for o amor perdido deste homem gasto pela dura vira de trabalho? E se for este pássaro a perda deste pescador? E se for Deus a enviar uma mensagem de esperança àqueles que desistem de amar e de procurar a felicidade?
Nunca o saberei. Mas este passarito regressou. À mesma hora, ao mesmo local. Quase como um relógio...
Muito bem! Mas não era um pardal. Não há pardais brancos.
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