Genericamente, o País não dedica a atenção merecida à creche, enquanto
instituição educativa para as crianças dos zero aos três anos, talvez por esta
ser «uma realidade relativamente recente, resultante, num primeiro tempo, de
alterações sociais ocorridas nas últimas décadas», sobretudo com a crescente
entrada das mulheres no mundo do trabalho.
No entanto, «as crianças dos 0 aos 3 anos têm, tal como as dos 3 aos 5, o
direito a um atendimento orientado, não apenas para os “cuidados” e o apoio às
famílias, mas igualmente para a qualidade nas propostas educativas». Ou seja,
estamos a falar de crianças que frequentam uma instituição educativa e que, por
isso mesmo, têm que ter também a qualidade exigida nas propostas educativas.
A desigualdade no acesso ao sistema de ensino acontece logo nos primeiros
meses de vida, sendo necessário equacionar o desenvolvimento de projetos que
impeçam que tal possa acontecer. Uma sociedade de homens e mulheres livres e
iguais tem que pôr em prática os mecanismos necessários, para que essa
igualdade e essa liberdade sejam efetivamente reais.
É, portanto, necessário tornar real e efetivo o direito das crianças dos 0
aos 3 anos à frequência da creche, enquanto instituição educativa. Na creche, a
criança “aprende” a respeitar o silêncio das outras crianças, intervém,
entusiasmada, em jogos e brincadeiras, dá os primeiros passos e aprende a
andar, partilha brinquedos e sorrisos, respeitando os sorrisos e os brinquedos
das outras crianças, canta e dança, naquele jeito ternurento que só as crianças
têm, interage com os adultos que estão integrados no seu quotidiano, habitua-se
a ser tolerante e a respeitar os direitos dos outros, cultiva o direito à
diferença com manifestações de carinho e afeto e desenvolve hábitos de convivência
social.
Torna-se, assim, urgente ir mais longe. Assim como se tem como meta atingir
a frequência do ensino pré – escolar a 100%, também se deve ter como meta
atingir a frequência da creche a 100%. Só assim daremos a todas as crianças,
sem excepção, o direito futuro a uma cidadania responsável e respeitadora dos
direitos e liberdades dos outros.
Mário Martins
(JN, 3-5-2017)
Houve tempos passados muitos próximos que falar-se de CRECHE era ideia de botas-de-elástico, logo, escafedeu-se.
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