quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Francisco e o dinheiro

O livro do Padre Anselmo Borges sobre Francisco, que já aqui trouxe, é uma joia para quem quiser perceber melhor a “revolução” que este Papa se propõe: “O Deus verdadeiro opõe-se aos ídolos do deus Dinheiro e do deus Consumo. Na economia, o ser humano é que deve ocupar o centro e os bens têm de estar ao serviço da dignidade de todos”.
Aos que insinuam que ele é comunista responde: “Todos sabem que a Igreja está contra o comunismo, mas ela está tão contra esse sistema como está contra o liberalismo selvagem de hoje. Este também não é cristianismo, não podemos aceitá-lo. Temos de procurar a igualdade de oportunidades e de direitos. Não deve haver pobres, e não há pior pobreza do que não poder ganhar o pão, do que não possuír a dignidade do trabalho”.
“O pobre não pode ser humilhado”- diz  Francisco -  que, ainda bispo, não aceitava convites para opíparos jantares de beneficência onde estava a chamada “nata da sociedade”, que os organizava mais para se exibir e lavar a consciência do que para auxiliar verdadeiramente os pobres. “Uma verdadeira vergonha, uma humilhação, um mau uso da caridade”.
Francisco e a Cúria
“Estou convencido de que nunca pensaram ter de ouvir o que ouviram – diz Anselmo Borges – “Estavam os cardeais, bispos, monsenhores, na bela sala Clementina, para a saudação natalícia papal. A Cúria esperaria palavras diplomáticas e alusivas à data, mas Francisco veio com o Evangelho, num discurso profético e arrasador”:
“Como seria belo pensar que a Cúria Romana é um pequeno modelo da Igreja; mas como todo o corpo humano está exposta à doença, sendo a principal a patologia do poder, sentir-se imortal, indispensável. Deviam fazer uma cura de humildade, passar por um cemitério e ver os nomes de tantos que também pensaram que eram imortais e indispensáveis. Uma Cúria que não se autocritica, que não procura melhorar, é um corpo doente”.
Depois da “ensaboadela” dada àquelas figuras, um cardeal aproximou-se de Francisco e, se calhar à espera de uma resposta bem humorada, perguntou-lhe se devia ir à farmácia ou à confissão e ouviu uma resposta contundente: Deve ir às duas! Como diz o prefaciador, Artur Santos Silva, “este é um livro altamente inspirador para as gerações que vivem os tempos conturbados dos nossos dias” .


Amândio G. Martins

6 comentários:

  1. "Ora bolas"!!! Era assim que se o vulgo designava um automóvel (Ford Anglia!) que, visto da frente para trás, era bonitinho até que... lá estava o horroroso vidro traseiro com a parte inferior em ângulo diedro!
    Veio-me isto à memória quando ia lendo o "post" do Amândio Martins já me preparando para o aplaudir quando...dou com o nome do prefaciador: Artur Santos Silva! Um homem da "cúria civil", capaz de desembolsar quinhentos euros num "jantar de caridadezinha" tão ao "jeito de Hollywood", presidente de mil e uma coisas onde o dinheiro e o poder se misturam, ubíquo onde existem os dois.
    Grato na mesma, caro Amândio, até porque nos mostrou o lado imperfeito do mundo. Como aliás já dizia Cristo no "é mas fácil um camelo passar no buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus" e... foi o que se vê! Francisco e Artur... não dá! Ainda mais pela pena de... Anselmo Borges...

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  2. Talvez porque nunca vi o seu nome associado a escândalos e tramoias, Artur Santos Silva é uma figura que não me suscita qualquer antipatia. Sei que foi figura importante do hoje indevidamente chamado Partido Social Democrata e não tenho informação de qual será a sua posição actual em relação a essa gente de hoje, mas desconfio que será a mesma do falecido Miguel Veiga...De qualquer forma, dou sempre o benefício da dúvida a toda a gente, e se o Padre Anselmo o convidou para prefaciar o livro é porque vê nele qualidades que talvez escapem ao Dr Fernando...

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    1. Admito que sim. Permita-me só que relembre o que está no primeiro subtítulo do seu texto: Francisco e o dinheiro. Tenho a certeza que entende a minha posição, a partir daí. E também que o Padre Anselmo Borges lhe vê qualidades e com certeza que as tem, agora o que entendo é que não é o homem certo para o tipo de livro que não li e de que só conheço os excertos que o Amândio Martins me deu a ver, mas que me chegam para o comentário que fiz.
      P.S.: Julgo já saber que o Amândio tem saber e estaleca para discutir abertamente tudo, no entanto se me
      me entender como impertinente ou teimoso "à outrance", peço-lhe desculpa. Sinto-me um pouco
      "pateta" ao dizer isto mas, às vezes, há "mimos" que cansam.
      ao dizer isto mas

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  3. O Dr Fernando já deve ter percebido que comigo pode discordar, contestar, corrigir sempre que se lhe afigure necessário que nunca cairei no rídículo de lhe dar resposta grossa por não ser da minha opinião...

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    1. É sempre bom ouvir-se a voz da sabedoria. Melhor ainda se com ela se aprender alguma coisa.

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