sexta-feira, 24 de novembro de 2017

                                                        Diálogo em Julho
Dois amigos, políticos encartados, conversam numa tertúlia onde normalmente se encontram.
Diz o primeiro:
- Calha bem encontrar-te porque tenho uma coisa para te dizer, sobre um nosso colaborador. Encontrei há pouco o Alfredo, com um ar muito pesaroso, pois acaba de ser despedido do lugar que lhe tínhamos arranjado. Nosso fiel companheiro, e não prestando para nada, como sabes, não pode ficar por aí ao Deus dará. Tens de lhe arranjar alguma coisa, que se veja, na esfera pública, com a urgência que o caso requer, pois o nosso poder, em alguns sectores, está em vias de entrar em ruptura e é preciso aproveitar os últimos cartuchos, pois os amigos são para as ocasiões.
O outro, sempre atencioso, medita um pouco e responde.
- Ora nós sabemos que o Alfredo, não sabe fazer nada, mas é a simpatia em pessoa e está talhado para relações públicas, que me parece é a sua formação académica ou talvez Relações Internacionais. Arranjamos um lugar à sua e à nossa medida. Vou telefonar para a nossa gente dos institutos, câmaras, ministérios ou empresas públicas e irá ter um lugar junto da administração, talvez assessor ou consultor contratado. O despacho irá sair no Diário da República, com a chancela de “por conveniência de serviço”. Dorme descansado e o rapaz que faça as malas.
Isto não se passou, tal qual assim, mas podia ter-se passado.
Contudo esta não é a única maneira de colocar os amigos à mesa do erário público, pois existem outras formas, mais sofisticadas, de atingir os mesmos objectivos.
Fazem-se parcerias para determinados projectos, porque qualquer pequeno passo tem de estar alicerçado em minuciosos projectos, na maioria das vezes com muita parra e pouca uva, porque o fim principal é impressionar os otários que sustentam todas estas estruturas.
Assim, os beneficiários contratados fazem uma firma, com toda a urgência, através dessa descoberta que foi a “empresa na hora”, e a instituição contratante, sustentada directa ou indirectamente pelos nossos impostos, fica com um encargo de, durante um certo período, às vezes alguns anos, pagar uma avença mensal ou anual, que muitas vezes não é mais que o salário de um assessor, que acaba de ser contratado de forma indirecta. O que isto tem ainda mais de anormal é que muita gente, que está metida na política e que tem altos cargos de decisão, acha tudo isto ético, porque é legal, e serve-se do estratagema a benefício dos seus correligionários e amigos. Isto desenvolveu-se como epidemia e é difícil, ou quase impossível, dar-lhe a volta.
22.07.2013

Joaquim Carreira Tapadinhas – Montijo  

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