sábado, 16 de dezembro de 2017

Morrer para viver


Diz o Padre António Vieira:  Considerando este contínuo passar do homem, diziam os sábios da Grécia, que todo o homem que chega a ser velho morre seis vezes. E como? Passando da infância à puerícia, morre a infância; passando da puerícia à adolescência, morre a puerícia; passando da adolescência à juventude, morre a adolescência; passando da juventude à idade de varão, morre a juventude; passando da idade de varão à velhice, morre a idade de varão; e finalmente acabando de viver por tanta continuação e sucessão de mortes, com a última, que só chamamos morte, morre a velhice.

Assim o consideravam aqueles sábios, mais larga e menos sabiamente do que deveram, aos quais por isso emendou S. Paulo, dizendo que morria todos os dias. E já pode ser que da comunicação que Séneca teve com S. Paulo, ensinou ele esta mesma lição ao seu discípulo, quando lhe diz: “Considera cada dia uma vida”. Se o Sol, que é sempre o mesmo, todos os dias tem um novo nascimento e um novo ocaso, quanto mais o homem por sua natural inconstância tão mutável, que nenhum é hoje o que foi ontem, nem há-de ser amanhã o que é hoje!


Amândio G. Martins



2 comentários:

  1. É bom acordar e ler um pequeno texto que é bonito, didáctico e... lenitivo. Aproveitemos, sem deixar nunca de pensar... mesmo que doa!

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  2. De facto, ao menos os textos deste sábio jesuíta nunca são aborrecidos...

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