sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018


Como o Oriente julga a Civilização Ocidental


“Para as nações orientais, desde o aparecimento dos europeus, a terra não respira já esta paz que era o espelho da sua felicidade. Se a consciência culpada de certas nações europeias evocou o espectro do “perigo amarelo”, não poderá a alma torturada da Ásia lamentar-se das realidades do “desastre branco”?

Pode parecer natural ao espírito dos Ocidentais contemplar,  com um sentimento de triunfo sem mácula, este mundo de hoje, no qual a “organização” fez da sociedade uma máquina imensa, provendo ela própria às suas necessidades...  E, todavia, a China, com a sua doce ironia, considera a “máquina” como um instrumento, não como um ideal.

O  Oriente venerável faz ainda a distinção entre os meios e o fim. O Ocidente é favorável ao progresso; mas para onde tende o progresso? Quando a organização material estiver completamente realizada, que fim, pergunta a Ásia, tereis vós atingido... A dimensão, só por si, não constiui a verdadeira grandeza, e a procura do luxo não conduz sempre a um refinamento.

Os indivíduos que cooperam na montagem da grande máquina da chamada civilização moderna tornam-se escravos dum hábito maquinal e são impiedosamente dominados pelo monstro que criaram. A despeito da famosa liberdade do Ocidente, a verdadeira individualidade é aí destruída, na competição pela riqueza; a felicidade e a alegria são aí sacrificadas ao insaciável desejo de possuír sempre mais. O Ocidente glorifica-se de se ter emancipado das superstições medievais; mas o que é este culto idólatra da riqueza que as substituíu”?

Okakura – Os Ideais do Oriente – Edições Payot.


Amândio G. Martins

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