domingo, 22 de abril de 2018

Falta uma semana...


…para ir descer a Avenida e encontrar os Amigos que nos ajudam a recordar aqueles dias de Esperança e Sonhos. Voltamos a falar do telefone que naquela madrugada tocou e a voz de um Amigo nos disse: liga a rádio, liga a televisão. E meios ensonados se saltou da cama, nos vestimos e uns foram para a rua contactar outros Amigos. Grândola Vila Morena numa mais será esquecida. Os anos já não nos deixam descer toda a Avenida mas esperamos a meio pelos mais novos e pelos mais audazes e depois chegamos ao Rossio e sentados numa esplanada iremos desfiar as nossas recordações. Comentaremos o que estamos a passar, o que devia e podia ter sido feito. Apesar de tanta coisa “perdida” que os dias de Esperança nos tinham perspectivado continuamos a celebrar o Abril de 1974.  

Tanta coisa que facilmente podia ser uma realidade: as reformas dos que trabalham há tantos anos; os Professores e os Médicos e os Enfermeiros; as funções de desgaste rápido… E depois falamos sempre dos horários desregulados, do preço e falta de transportes e os ordenados tão baixos. Aqui vamos certamente falar dos que ganham numa hora aquilo que uma grande maioria – milhões mesmo de portugueses não ganham num ano. Há sempre um de nós que não nos vai deixar continuar a afundar em desesperança. Tem sido assim todos os anos. E começamos a falar de estarmos ali, numa esplanada da nossa baixa lisboeta, a recordar que temos Liberdade de falar alto, de escrevermos, de lermos o que nos apetece, de criticar e dar “dicas” de como devia ser para que o Sol brilhe para todos nós. Lembramos Ary dos Santos, Zeca Afonso, a possibilidade de termos o forte de Peniche a receber visitas guiadas e esclarecedoras para não deixarmos que jamais volte a ser presídio. Paramos alguns minutos nas boas recordações para referir a corrupção, os tachos e acumulações que os jornais sempre vêem informando, o bombardeamento que a comunicação social nos faz diariamente sobre o futebol como se não houvesse as medalhas dos Olímpicos e Paralímpicos, dos nossos Ginastas, do Judo… dos nossos artistas, os trabalhos premiados dos nossos cientistas, mas saltamos de novo para os projectos para os nossos Netos que acompanhamos e ajudamos a esclarecer e do nosso trabalho que como cidadãos conscientes que somos – mesmo condicionados pelo peso dos anos – vamos desenvolvendo. E, depois vamos regressar às nossas casas fazendo votos que para o ano as nossas conversas sejam só de festejo das coisas boas que possam acontecer. E despedimo-nos com aquela frase que está sempre no nosso coração: “agora ninguém cerra as portas que Abril abriu”!

Maria Clotilde Moreira

Jornal Costa do Sol – 18.04.2018

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