quinta-feira, 26 de abril de 2018

O Estado de Direito, o jornalismo e... a vida

De um modo geral, coisas complexas exigem muita reflexão e muito cuidado na nossa expressão sobre elas mas, por outro lado, vale a pena dizê-las mesmo correndo o risco de as simplificar em excesso. Vem isto a propósito da recente polémica que se instalou sobre  a passagem televisiva, pela SIC, de interrogatórios na "Operação Marquês". E que, entre outras peças colectivas e individuais, mereceu um "Prós e Contras" na RTP1.
Para além das fulanizações, interessa-me muito o debate que se instalou entre Estado de Direito e interesse jornalístico, tomado este último não como "interesse dos jornalistas" (que existe), mas sim como interesse público e para o público, que é fornecido por peças jornalísticas. E que ficou patente no dito programada RTP, onde também se viu que há uma leitura muito própria dos actores mais importantes da Justiça ( que também existe), procuradores e juízes, que, por isso, igualmente o são do Estado de Direito.
E, terminado o visionamento do programa e lido uns tantos textos sobre o assunto, lamento mas posições maniqueístas  e, muitas vezes, fulanizadas, não as consigo ter. Sabendo que na espécie humana não há, a regra e esquadro, bons de um lado e maus do outro e ("pour cause..."), o Estado de Direito é de fundamental existência, movo-me num campo difícil que alguns chamarão de indecisão e relativismo, mas que eu, não o negando, tomo mais como de pensamento crítico e civilizado.
Sintetizando: os juízes e procuradores são os fautores do exercício do Direito mas também são homens e mulheres, condicionados, portanto. E o exercício do Direito é a Lei, que serve para sustentar acusações, julgamentos e decisões. Mas, sendo esta a retaguarda da nossa vida colectiva, esgota-se em si em si mesma e esgota a vida? A minha resposta é: não. Nos sistemas de pesos e contrapesos da sociedade humana... a vida torna.se mais complicada. O que "dói" no pensamento mas... é bom para a democracia e para o o nosso viver interior. Quero com isto dizer que se o jornalismo tiver que pedir autorização ao juíz para, segundo a sua visão, exercer o seu múnus, não estará, logo à partida bloqueado pela lei que o juíz exerce cegamente e como lhe compete?
O texto vai longo e, provavelmente, fastidioso e por isso termino. Seres humanos, totipotência destes, Direito, Justiça, actores desta, liberdade, utilidade de informação, capacidade crítica, organização societal  e... por aí além. Acho mesmo que é neste cadinho que somos e estamos vivos.

Fernando Cardoso Rodrigues

2 comentários:

  1. Se esta "justiça" não fosse uma completa mascarada, os espectáculos degradantes que vêm sendo impunemente servidos à populaça nunca aconteceriam; isto porque, quando a Justiça se apodera da vida de um cidadão, enquanto a sua culpabilidade não for julgada e condenada, está obrigada a defenfê-lo dos justiceiros selvagens, assim como está obrigada a defender a sua vida no caso de o condenar e encarcerar.

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    1. Ao acusar, dum modo tão percuciente, a Justiça, parece que o "processo Marquês" não é complexo e mudou o rumo várias vezes devido a novos acontecimentos. E os factos que vamos sabendo (transferências, nomes dos que as faziam, etc), são despiciendos? Eu não os vejo assim. E não consigo acusar, com veemência, somente a Justiça.

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