quinta-feira, 26 de abril de 2018


O meu pensamento sou eu – Sartre


"Se ao menos pudesse parar de pensar, já não seria mau. Os pensamentos são o que há de mais enjoativo. Prolongam-se interminavelmente e deixam um gosto esquisito. E depois há as palavras no interior dos pensamentos, as palavras incompletas, os embriões de frases que reaparecem constantemente.

É algo que anda, anda e nunca acaba. É pior que o resto, porque disso sinto-me responsável e cúmplice. Por exemplo, esta espécie de ruminação dolorosa: eu existo, sou eu que a alimento. O corpo vive sozinho, uma vez que começou a viver. Mas o pensamento sou eu que o continuo, que o desenrolo.

Oh! que comprida serpentina, este sentimento de existir – e eu, muito devagarinho, a desenrolá-la... Se pudesse fazer com que não pensasse! Tenho a impressão de que a cabeça se me enche de fumo...mas eis que tudo recomeça. Fumo... não pensar... Não quero pensar...Penso que não quero pensar. Não posso pensar que não quero pensar. Porque isso  mesmo é um pensamento. Então isto nunca mais acaba"?

Nota – Apontamentos do livro “A Náusea”


Amândio G. Martins

2 comentários:

  1. "Seguir a vagabunda viagem do nosso espírito nas suas idas e vindas é um divertimento muito recomendável", dizia Montaigne...

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