quarta-feira, 23 de maio de 2018

Tabacanásia

- Está provado ou se julga saber, que o carvão dos cigarros faz a vida negra aos consumidores. Activos e passivos que engolem bolas de fumo sugadas e atiradas ao ar pelos fumadores, têm efeitos nefastos na saúde, e mandam-nos mais cedo, diz a ciência médica, para tratamento aflito ou despacham-nos para a cova, com algum floreado a revestir os caixões. Atrás seguem os chegados e amigos, em número de acordo com a importância da vítima. Mas em Vale de Salgueiro, que os estranhos àqueles "cigarreiros" querem chamar-lhe Vale do Cegueiro, a população não vê com maus olhos, que a tradição de dar umas passas num cigarro, seja tradição assim tão maléfica quanto querem fazer crer, a velhos e a novos, até de tenra idade. Avós e pais da criançada, não quer acabar com os festejos do Dia de Reis, e animam a que se faça fumo e se acenda "o seu cigarro no do outro", sem que isso traduza, ser escola de vício e menos uma espécie de Casal Ventoso. Justificam com argumentos lógicos, exemplificando com outras manifestações da vontade popular, mais prejudiciais. A Festa obedece a ritual. Tem povo, baile, gaiteiros, alegria e orgulho. Não querem sequer ouvir falar de acabar com tal Dia, aonde as crianças fumam cigarros autorizados pelos pais e pelo passado, que chegou sem se saber aonde nasceu, e se fez tradição, polémica hoje. Os velhos, que já foram novos e passaram por tal ritual, estão aí limpos, cheios de saúde e sem hábito de fumar. São testemunhas vivas, que ficaram vacinados contra o vício temido pela ciência, que agora diz uma coisa e depois dirá outra, como já aconteceu em tempos com os benefícios e malefícios do azeite e do vinho. A verdade é uma coisa que às vezes demora a chegar, mas aparece. Ali, naquele povoado, o hábito não faz o monge. Os que não foram apanhados pelo ritual do cigarro e pela mancha no pulmão, provam que qualquer pessoa só pratica e dá continuidade a este ou àquele "crime" se não tiver vontade para o contrariar. Há velhos que fumam desde crianças e andam aí, e outros que se conheciam, já finaram, sem que alguma vez metessem um cigarro à boca, nem outra palha a arder. Polémica esta dedução, não é? É só fumaça, entre amigos e compinchas, num dia do resto das suas vidas, ao som da "Murinheira"!*

-*(o autor deste gatafunho, é fumador passivo)

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