quarta-feira, 13 de junho de 2018

SINAIS






Seguida por uma multidão, uma hora depois, a Praça do Chile era um mar de gente que se espraiava pela Morais Soares acima até ao Alto de S. João, onde a urna contendo o corpo da Álvaro Cunhal chegaria passada outra hora. Tal a dificuldade em progredir no meio daquela compacta mole humana que, sentida e vibrante, lhe rendia a derradeira homenagem.
A PSP, habitualmente comedida, avaliou em 100 mil pessoas. Seria o dobro? 180 mil? 150 mil? Impossível saber-se. O que se sabe exatamente, é que foi uma impressionante manifestação popular. O maior funeral de que há memória neste país. E, logo agora, em que o prestígio da classe política quase atinge o nível da sarjeta. Inexplicável? De maneira nenhuma! É que, este povo, macambúzio e malhadiço, também sabe ser justo, generoso e valente. Provámo-lo ao longo dos oito séculos da nossa história. A ultima vez que nos levantámos e fizemos um gesto lindíssimo, foi por outro, o de Timor. E agora, não só os que estiveram nas ruas da nossa capital, do Minho aos Açores e à Madeira, reconheceu-se a inteligência, a tenacidade, o heroísmo, a total entrega de uma vida em prol dos outros. Reconheceu-se um dos nossos maiores.
Mas, tudo isto, não serão também sinais? Sinais de que estamos fartos. Fartos de amargar e de tartufos. Não serão também sinais de que, definitivamente, queremos mudar de vida?
Francisco Ramalho
Corroios, 7 de Julho de 2005


Repare-se na data em que escrevi o texto...

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