terça-feira, 24 de julho de 2018

Sentimento ou complexo?

Descobri Frederico Lourenço (FL) num pequeno romance, que me despertou a leitura pelo que li na badana. Mal sabia eu que, passados anos, ele iria ser Prémio Pessoa 2016 e o incensado autor da tradução da Odisseia e da Ilíada e, ainda mais , da Bíblia Septuaginta. Esta semana, volto a ele através duma entrevista que deu ao EXPRESSO, por uma razão menor, ou talvez não, já que deu título àquela : O meu incentivo foi o complexo de inferioridade (sic).
Estranhei, mas continuei a  ler e FL vai mais longe e diz que é quem é porque quis mostrar ao pai que "não era tão burro como ele achava que eu era" (sic). E chama a isso "complexo de inferioridade". E chego ao ponto. Complexo? É que me lembro bem (  e por isso o cito imensas vezes), das minhas aulas de Psicologia (ou Psiquiatria?) onde nos ensinavam que o complexo de inferioridade é o sentimento de inferioridade...cristalizado ( suponho que o conceito era do próprio Freud). Donde a ilação retirável decorria lógica: o sentimento é benéfico porque nos faz "crescer" mas, se bloqueia, transforma-se num complexo, esse sim, pernicioso. E mais, quase todos passamos pela fase "boa" do primeiro e alguns chegam ao deletério segundo. Julgo que mesmo a um linguista e catedrático como o meu admirado FL, faltou o rigor na palavra. Como aliás se vê no trajecto da sua vida académica e cidadã.

Fernando Cardoso Rodrigues

4 comentários:

  1. Na linguagem psicanalítica freudiana complexos são resistências; para um leigo, "complexos" são estes temas, mas atrevo-me a dizer que o complexo de superioridade é uma praga, não tanto para o seu "hospedeiro", mas para quem tenha a desdita de lhe estar perto ou na sua dependência. Na pessoa de boa índole, o dito complexo de inferioridade é uma coisa boa, estimulante, que a leva a superar-se, como fica claro nas palavras de Frederico Lourenço...

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    1. Confesso que fiquei um bocado "baralhado" com o seu comentário. Concorda comigo nas definições ou não? No início pareceu-me que concordava mas depois, talvez por "bonomia" para com o uso de complexo como sinónimo de sentimento na linguagem comum, inclusive na de FL, já me pareceu que não. E, confesso, não entendi o "boa índole" neste contexto. Mas estou disposto a rever os meus conceitos, acredite.

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  2. Não me parece que a questão se possa pôr em termos de concordar ou não consigo; e a última coisa que eu faria seria "armar ao pingarelho" com um médico numa questão de tamanho grau de dificuldade e que, no fundo, é de saúde que se fala, embora possa não ser a sua especialidade. Mas imagino que se Frederico Lourenço, em vez da "boa índole" que lhe atribuí, fosse indolente e aceitasse passivamente o juízo que o pai fazia dele não teria chegado ao nível em que o vemos...

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