quinta-feira, 9 de agosto de 2018

NÃO TEMOS EMENDA?




Mesmo depois das tragédias do ano passado, aí temos de novo a desgraça. O fogo a devastar quilómetros e quilómetros de vegetação, de vida animal, de todo o ecossistema. A única diferença, a mais importante, evidentemente, é que desta vez, se preveniu a vida humana. De resto, tudo como dantes. Basta ouvir-se as criticas dos habitantes locais, de comandantes de bombeiros, e até do presidente da câmara de Monchique a dizer que os presidentes dos municípios não são ouvidas nem achados na política de ordenamento florestal.
É sabido que a vegetação autóctone da serra algarvia, é constituída essencialmente por carrasqueiras, medronheiros, aroeiras, alecrim, rosmaninho, travisco, murta. Árvores de grande porte, apenas azinheiras e sobreiros. E, mesmo assim, dispersos. Mas, desde há uns anos, foi introduzida intensivamente outra espécie... Não estará ela, a potenciar, a alimentar, o fogo devastador? Evidentemente, falamos da tal de crescimento e lucro rápidos, o eucalipto. E o resultado está à vista. Toda a vegetação autóctone desaparece, e em meia dúzia de anos, aí temos de novo, qual fénix renascida das cinzas, o famigerado e avassalador eucaliptal que alimenta celuloses e algumas carteiras.
Mas quem é que não sabe isto? Sabe o poder central e local, e sabe o povo. E se toda a gente sabe, porque se fez e não se alteram as coisas? Esta é que é a questão central! Fez-se e não se alteram as coisas, porque não temos emenda. Somos assim. É genético. Já o Guerra Junqueiro dizia: “uma burguesia cívica e politicamente corrupta até à medula, um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio”.
Não muda, porque os que lucram com a situação, obviamente não querem! E o povo, além de eleger a maioria que os representa, depois não os pressiona nas Assembleias de Freguesia, nas Assembleias Municipais, na rua, nas urnas. E com esta minha conversa, pensarão alguns, não estarei também eu a alimentar o fatalismo e a resignação? Socorro-me então de outro ilustre compatriota que também nos dava socos no estômago, o grande Ary: “Levanta-te meu povo não é tarde!/ Agora é que o mar canta é que o sol arde!/ Pois quando o povo acorda é sempre cedo!”
Francisco Ramalho
Corroios, 9 de Agosto de 2018

16 comentários:

  1. Realmente, senhor Ramalho, a gente questiona-se da razão por que, com tantos avisos e tantas liçoes do passado, ainda é possível que arda tanta coisa, casas e tudo. Bem sabemos que é fácil a quem está de fora dar palpites, pois quem lá anda dentro decerto que, se pudesse, não deixava arder. A desgraça não é exclusivo nosso, embora não nos sirva de consolação; de facto, em simultâneo com Monchique, ardiam em Espanha, na Comunidade Valenciana, vários concelhos, num fogo que também se prolongou por vários dias e arderam mais de 50 moradias, enfim, tudo muito mau...

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  2. Deixo de lado o os incêndios em si mesmos pois estou, genericamente. de acordo consigo. Fico-me pelo povo, Guerra Junqueiro (GJ) e pela... genética. Aliás, se bem me lembro, já não é a primeira vez que o Francisco de socorre daquele poeta para aceitar a marca indelével dos genes na sua (do povo) imbecilidade. Estranho em si... É que se GJ, com a sua "aquiescência", tiver razão , então... bem pode Ary, tonitroante, dizer o que disse que nada pode mudar. O que não acredito, embora possa ter "receio" que se realize. Mas, como sabe, eu não aceito nem utopias nem factos inelutáveis na política. Se me permite, GJ e Ary são incompatíveis... A não ser que o primeiro falasse com "pedantismo" litrário e o segundo como unicamente nefelibata, o que não quero crer...

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  3. Senhor Amândio, depois do que escreveu sobre o assunto, com o qual concordei plenamente, " O embuste do "ouro branco", acho bastante contraditório este seu comentário. Quanto à genética, Fernando, claro que é um "palpite".Em relação à imbecilidade e achar estranho em mim, se ainda não reparou, estou-me nas tintas para o politicamente correcto. Mas, Fernando, GJ não disse só isso do povo! (do povo, da burguesia, do clero) Disse também que o amava. E, ao contrário de si, eu acredito em utopias em factos inelutáveis na política e acho GJ e Ary perfeitamente compatíveis.

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  4. Quanto ao GJ, como ele disse da imbecilidade de vários, só posso concluir que.... somos todos imbecis! Talvez excepto ele... AH! mas ele... amáva-nos! Que generoso!
    Quanto ao resto, dos nosssos últimos parágrafos, pronto, você pensa asssim e eu penso "assado". Está bem.

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  5. Nem o Guerra Junqueiro escapa! Exactamente! Você pensa assim, e eu penso assado. O ideal seria pensarmos todos como o Fernando, não é verdade?

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  6. Não e você sabe-o muito bem. Essa sua insinuação é mais ou menos recorrente e de muito mau gosto mas enfim... é o Francisco!

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  7. Como é recorrente a exigência do Fernando nas respostas aos seus comentários.

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    1. Realmente sou exigente, tem razão. O que me diriam se eu fizesse uma paráfrase de alguém, que tem que ter valor no contexto da totalidade do escrito, e disso não extraísse consequências? Quaisquer que elas sejam. Limitar-me-ia a responder que era um "palpite" e...pronto? Seria leviano demais da minha parte.
      Deixe-me só terminar "com" o Guerra Junqueiro. O problema não é ele mas sim o uso que você fez do que ele escreveu e que, de todo, eu não "percebo" por ser contraditório com o que penso sobre o povo (todo). Não o amo nem o tomo como imbecil. E, daí, não o uso como simples campo de manobra para prossecução dos meus desígnios nem como simples mote para poemas. Eu e você pouco contamos nisto, o que conta é o que a gente pensa e escreve e que dá ilações a retirar.

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    3. Apaguei o comentário anterior porque me enganei e estava a responder ao Sr. Amândio. Sabe que mais Fernando, estou farto de o aturar! Mas olhe, não vou fazer como outros companheiros, não me vou embora. E se insistir em olhar-me do alto do seu pedestal, em ser chato como a potassa, não vou ter mais paninhos quentes consigo.

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    4. Enquanto o (um) blogue for blogue, vai ter que me "aturar", sempre que eu o entender por curial. E não me ouvirá uma palavra ofensiva/desbragada nem uma "ameaça velada". Bem como algum "medo" se a sofrer.

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    5. Não lhe fiz nenhuma "ameaça velada", disse-lhe concretamente que não irei ser tão tolerante consigo. É isso, os paninhos quentes. Eu sei que não é desbragado. O que não significa ser menos impertinente. Mas pago-lhe pela mesma moeda;vai ter também que me aturar.

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    6. Vai ter também de me aturar, mas também, e só, quando achar que o deva fazer.

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    7. Se vir bem, eu nunca me queixei de o ler. Muito menos de o "aturar". Comento e respondo quando entendo que tenho algo a dizer, tão somente. E também nunca lhe pedi tolerância para comigo, ou pedi? Este não é o sítio para a pedir a ninguém. Diga o que entender que eu cá estarei para fazer o mesmo.

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  8. Ó senhor Ramalho, eu não consigo descobrir, no meu comentário, nada daquilo que o senhor "acha bastante contraditório" com o texto que refere...

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    1. No seu texto que refiro, o Sr. dizia mais ou menos o que eu digo agora, neste seu cometário parece que acha normal o que aconteceu.

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