Curiosidades da vida das gentes...

Ando pouco em transportes públicos porque os horários aqui praticados não combinam com os meus, mas dá para perceber, quando o faço, o que diz Tiago Rodrigues Alves no JN, que nestes transportes se encontra de tudo: novos e velhos, feios e bonitos, bem e mal educados, vestidos ou cheirosos; ouvem-se sotaques cerrados, berros e choros, há empurrões e amassos, há a cidade real.

Diz que “a cidade se conhece  andando por ela com vagar para observar e ouvir quem nela vive, o que não se consegue a partir de um carro; sem andar nos transportes públicos nunca saberíamos que a ciática da D. Rosa piorou com a chuva ou que a filha daquela senhora que entrou em Pereiró está grávida dum rapaz que não a merece e que o sr. Teixeira trocou a mulher por uma prima”.

Também foi assim que soube da conversa que a Fátima lavadeira -  mocetona alegre e despachada -  teve com o bonacheirão do padre António, da igreja da vila, quando este deixou de a ver na missa das sete -  que lhe cabia a ele celebrar - e quis saber porquê: -“O senhor padre António desculpe, mas não aguento  mais ir àquela hora; é que vêm à sua missa aquelas mulheres dos arredores mal lavadas, lavam a cara mas não lavam o principal e é um cheirete que não se aguenta”!

O reverendo ficou a olhar a Fátima, sem perceber patavina, perguntando-lhe: -“Não lavam o principal, que principal”?

-Ora, ora, senhor padre António, V. Reverência bem me entende...

Após uns momentos de reflexão, o velho padre lá julgou ter percebido e disse à rapariga: “Olha que tu sempre tens cada saída, moça; tenho ouvido as coisas mais estranhas, mas é a primeira vez que ouço chamar  a “isso” o “principal”...

Amândio G. Martins