segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

O Morto deu sinais de vida?


Quando deu entrada nas urgências do hospital distrital, já os familiares – devido a padecimento prolongado e irreversível – contavam que não lhe sobravam muitos dias de vida.
Mas, como a esperança é a última a morrer, ninguém se convenceu de que seriam tão poucos os dias em que o senhor Edmundo iria continuar entre os seus.
Passados cinco dias, mal o Sol despontava por detrás do pequeno monte, chegou à aldeia a notícia que ninguém queria que o fosse: o tio Edmundo tinha falecido por volta das quatro da manhã (sabe-se lá porquê, constava-se que naquele hospital muitas pessoas morriam por volta daquele hora).
Começaram as diligências com vista ao reconhecimento do corpo, o velório e o funeral.
Foi no velório que tudo se passou de maneira pouco normal para os costumes, não só da aldeia, como também de todos os falecidos: o senhor Edmundo levantou-se do caixão, ficou algum tempo sentado, olhou as pessoas à sua volta, e achou tudo aquilo muito estranho – já tinha estado algumas vezes naquela sala, a participar em velórios de familiares ou amigos, mas a sua estranheza subiu de tom quando se apercebeu do seu papel no meio de toda aquela realidade.
Chamou o filho mais velho, que estava próximo, apenas para pedir que confirmasse as suas dúvidas, se aquilo que estava a acontecer naquela sala era mesmo verdadeiro, ou se seria ele que estava envolvido num dos piores sonhos ou mesmo num pesadelo.
O filho esclareceu-o sobre as suas dúvidas, e que já se tinham chamado as entidades oficiais, nomeadamente o médico e os bombeiros – talvez quisesse dizer INEM.
Quando estes chegaram ao local, e depois de se inteirarem da situação, um bombeiro apenas declarou que ao longo dos anos e da sua experiência, nunca tinha visto nada assim; o médico, que chegou pouco tempo depois, disse às pessoas que – embora muito raramente - estas coisas às vezes acontecem: “o cadáver vai ficando rijo nas horas que se seguem ao falecimento, de que podem resultar estes movimentos mecânicos”.
O óbito foi confirmado pela segunda vez, o falecido lá ficou – provavelmente muito desanimado – dentro do caixão, em forma correcta, talvez frustrado por não participar no seu próprio funeral.
Mas era assim que tinha de ir – e foi.

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