sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

O trabalho



Estas lutas que todos os dias aparecem na comunicação social têm por base o trabalho. É a reclamação para que seja contado o tempo que realmente trabalharam que até terá implicações na altura de se passar à reforma e que está provado que estiveram presente nos seus postos de trabalho, mas quem “manda” vai dizendo “nim”.

São também as reclamações sobre a não aplicação das tabelas salariais oficiais e assim há trabalhadores que não são aumentados há dez anos. Há quem esteja na rua a reclamar pela falta de pessoal em muitos Serviços do Estado – e muitos não recebem as horas extras que estão a ser obrigados a fazer. Há também aqueles que estão fartos – dizem que há casos de vinte anos – de trabalharem ao dia. Ora são chamados uns ou chamados outros e lá vão vivendo com uns biscates que vão aparecendo. 

Portugal está praticamente todo na rua reivindicando horários, salários, contra a precariedade. E os responsáveis mudos e quedos como se o Sol tudo resolvesse.

Houve tempos em que os chamados patrões lutavam para manterem as suas equipas estáveis oferecendo extras que cativaram famílias a assegurarem o trabalho nas empresas. Havia colónia de férias, subsídios para seguirem os estudos e ajudas para os filhos estudarem. Algumas empresas até criaram bairros para assegurarem habitação aos seus empregados e famílias. Depois encurtaram horários, instalou-se o pagamento das horas extras, oficializou-se os períodos de férias, criou-se subsídios para ajudar os trabalhadores que tinham trabalho por turnos, apareceu o subsidio de Natal e em algumas empresas o subsidio de férias e até ajuda anual para os gastos com transportes. Algumas empresas tinham refeitório, criaram postos médicos para os seus empregados e até subsídios para os medicamentos. Estas chamadas “regalias” eram o orgulho de quem era admitido e lá trabalhava esperando encontrar lugar para os seus familiares.

Claro que houve alguma evolução a nível geral e muitas destas práticas foram sendo asseguradas pela legislação do trabalho estendendo e uniformizando as regalias de todos os trabalhadores.

Mas entretanto a desregulação foi-se instalando e numa perspectiva de apenas mais lucro foram sendo cortadas muito das regras que suportavam a prestação de trabalho. E se algumas atitudes foram sendo aceites pelos trabalhadores porque seriam transitórias e seriam apenas resultado de uma crise internacional (?), agora temos o País na rua reclamando pela falta de respeito que governo e empresários têm pelo trabalho e por quem o assegura.

Sem trabalho não há produção e sem braços a produzir não avançaremos. Mas os trabalhadores além de salários justos precisam de horários humanizados e outros benefícios para constituir família e até terem tempo para olharem o Sol.

Maria Clotilde Moreira

Jornal Costa do Sol - 12.12.2018

1 comentário:

  1. Este texto da Clotilde mostra à saciedade a transformação do capitalismo liberal num outro capitalismo, financeiro e predador, também chamado de neoliberalismo. Flexibilidade e desregulação foram as palvras-passe para a e(in)volução... Agora... a caixa de Pandora está aberta e todos os outros diabos, inclusivé os de sinal contrário, que lá se acoitaram, vão saindo aos molhos...

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